segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dilma com as Madres

A presidenta Dilma Roussef, hoje em Buenos Aires, vai se encontrar com as Madres, grandes Madres, Madres do mundo, Madres dos desamparados, Madres dos perseguidos, Madres dos excluídos, Madres da cultura, Madres da educação, Madres não genéticas, Madres por escolha, Madres por ato, ação. MILITAR É AGIR . Bravo Dilma!!!!!!! Nossa presidenta-miltante! Madre también!



Homens desérticos e labirínticos...

"Há um flor no escuro de uma caverna...
Há um roseiral nas curvas e becos de um labirinto..."
Jorge Bichuetti


"Para o homem medido e comedido, o quarto, o deserto e o mundo são lugares estritamente determinados. Para o homem desértico e labiríntico, destinado ao erro de uma marcha necessariamente mais longa do que sua vida, o mesmo espaço será verdadeiramente infinito, mesmo se ele sabe que ele mesmo não o é, e tanto mais quanto mais ele o souber.” Monegal. Borges: uma poética de leitura



“pensar não é sair da caverna nem substituir a incerteza das sombras pelos contornos nítidos das próprias coisas (…). É entrar no Labirinto, mais exatamente fazer ser e a aparecer um Labirinto ao passo que se poderia ter ficado ‘estendido entre as flores, voltado para o céu’. É perder-se em galerias que só existem porque as cavamos incansavelmente, girar no fundo de um beco cujo acesso se fechou atrás de nossos passos até que essa rotação, inexplicavelmente, abra na parede, fendas por onde se pode passar”. Cornelius Castoríades. As encruzilhadas do labirinto

“ um corpo flexível ou elástico ainda tem partes coerentes que formam uma dobra, de modo que não se separam em partes de partes, mas sim se dividem até o infinito em dobras cada vez menores, que conservam sempre uma coesão. Assim, o labirinto do contínuo não é uma linha que dissociaria em pontos independentes, como a areia fluida em grãos, mas sim é como um tecido ou uma folha de papel que se divide em dobras até o infinito ou se decompõe em movimentos curvos, cada um dos quais está determinado pelo entorno consistente ou conspirante. Sempre existe uma dobra na dobra, como também uma caverna na caverna. A unidade da matéria, o menor elemento do labirinto é a dobra, não o ponto, que nunca é uma parte, e sim uma simples extremidade da linha” - Deleuze - A dobra: Leibniz e o barroco

Para a LUA

"Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu."
Cecília Meireles


domingo, 30 de janeiro de 2011

Jorge Bichuetti, esbanjador de palavras, poeta



1 comentários:


Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Somos nômades... o avesso, reverso e anti-verso dos homens infames... Nômade - cuja vida é umma intensa e incessante desterritorializaão e reterritorialização que nos dá os entre onde tecemos nossas linhas de fuga...

Um nômade... um modo de existir onde é inerente e imanente um desejo-necessidade de ser artista, de sempre criar, do novo...

Somos a audácia do grande livramento que nos diz Nietzsche no Humano demasiadamente humano...

Abraços com a ternura do luar e com o cálido perfume do alvorecer,

Jorge



 
DEVIR NÔMADE 


JORGE BICHUETTI

Não tenho rumo, leme ou direção.

Sigo com o vento.

Não uso, terno, gravata ou uniforme.

Visto-me de tiras,

fantasias

ou só tinta na pele.

Não tenho pátria,

patrão

ou um anjo guardião.

Sou... um errante,

um errante em busca,

em busca de novidades.

Meu pecado? Não, ó, não!...

Pura obra do destino:

apanhei uma flor no caminho...

Aspirei...

E o seu perfume me enlouqueceu:

agora, uma rosa pulsa no meu peito

e o meu coração

mora na estrada...




Marisa Monte, a Divina


Pra você,
o Inominável.


CsO global


Um bando de vagabandos na minha cabeça. Hipertexto. Hipermídia. Corpo sem Órgãos. Deleuze. Guattari. Vidas cruzadas. Anti-édipos. Revolução no pensamento. Chega de papai e mamãe. Invente seu corpo sem órgãos. Trace. Trace como o homem da caverna traçou com o sangue. Imagem-potência. Mapa de corpo sem órgãos. Cinema. Faz tempo não vejo um filme bom, mas o cinema está sempre me povoando com a enorme memória social e pessoal. Histórias. Imagens. Sociedade da informação e do conhecimento? Homem primitivo. Cavernas. Maria Beltrão que mulher astral, fantástica obra de pesquisadora do sertão e das cavernas. Me faz lembrar outro Beltrão, serão irmãos? Tradutor de extensa e cavernosa obra do Zen Budismo e do Taoismo.  Minha cabeça não aguenta mais. Taoismo. Uno. Múltiplo. Bruno Latour e seus híbridos. Minha cabeça é um híbrido. Vários híbridos. Rizoma de pensamentos. Bagunça. Caos total. Pensador privado. Caverna. Já dizia Deleuze a respeito de Sartre em Meu mestre, texto lindo: é preciso um pouco de caos para pensar. A caverna é o retiro do pensador privado.  Mas Deleuze e Guattari também disseram  é precio um pouco de ordem para pensar, O que é a filosofia? Um pouco de ordem para poder pensar. Então, esqueço o Egito, as imagens do Egito. Ontem vi milhões de imagens dos países da África... Mama África. Se pensarmos bem, a África é o mundo.  Imagens. É preciso esquecer tudo isso. E adentrar o mundo pela caverna . Sentir vibrar o Corpo sem Órgãos do mundo. Presença transcedental. Sem decalques. Não a caverna de Platão. A caverna de Deleuze-Guattari. Qual é o problema dos simulacros?  

E eu adoro um decalque!!! Mas não há decalque possível para esse mundo vagabond. Talvez haja um. Esse vídeo lindo do Deleuze recitando Nietzsche ao som da banda Pinhas- Heldon. Reposto aqui. Repostarei mil vezes!!!!!!! Le voyageur. Considero esse vídeo uma obra prima, schizo-vídeo.




"Quem chegou, ainda que apenas em certa medida, à liberdade da razão, não pode sentir-se sobre a Terra senão como andarilho — embora não como viajante em direção a um alvo último: pois este não há. Mas bem que ele quer ver e ter os olhos abertos para tudo o que propriamente se passa no mundo; por isso não pode prender seu coração com demasiada firmeza a nada de singular; tem de haver nele próprio algo de errante, que encontra sua alegria na mudança e na transitoriedade." Nietzsche - O andarilho - Humano demasiadamente humano 
Na íntegra, o texto de Nietzsche, em francês: aqui.  



sábado, 29 de janeiro de 2011

Um pouquinho do Egito que se rebela







Mendigos e altivos

O SOL É NOVO A CADA INSTANTE

Edward HOPPER, "Rooms by the Sea", 1951



Que
tal

Que tal


Que
tal?

Um...

Um?

Dois.

Dois?

ou mais
quem sabe
muito mAIS.
Mas que sejam
  

DrinKs.

 HOPPER “Nighthawks at the Diner” 1942





EGITO

Bom ver o Egito de volta na mídia. Que seja ao preço da violência! Afinal a mídia gosta só dela, quase só dela. O Egito de volta. Eu amo o Egito. Saber do Egito. Hoje. Tenho um filho filho de egípcio. Adoro comidas egipcias. Meu primeiro amor virtual foi um egipcio (Omar Shariff), adoro os escritores egípcios, Nagib Mahfouz, Albert Cossery. É desse que eu queria falar aqui. Albert Cossery. Tá falado. Quem quiser conhecer o Egito ( nos meandros, nos entre ) leia Albert Cossery. Ele é demais. Recomendo começar por Mendigos e Altivos, seu romance de estréia, publicado no ano que nasci, 1955, mas que é atualíssimo  como eu... (Rsssssssss) .



«Je ne peux pas écrire une phrase qui ne contienne pas une dose de rébellion. Sinon elle ne m'intéresse pas. Je suis toujours indigné de tout ce que je vois…»


ROSA QUE TE QUERO ROSA VERDE QUE TE QUERO VERDE VERDE QUE TE QUERO ROSA


Verde que te quero Rosa
Mestre Cartola

Verde como céu azul a esperança
Branco como a cor da Paz ao se encontrar
Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida
É negra toda tristeza se há despedida na Avenida
É negra toda tristeza desta vida

É branco o sorriso das crianças
São verdes, os campos, as matas
E o corpo das mulatas quando vestem Verde e rosa, é
Mangueira
É verde o mar que me banha a vida inteira

Verde como céu azul a esperança
Branco como a cor da Paz ao se encontrar
Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida
É negra toda tristeza se há despedida na Avenida
É negra toda tristeza desta vida

É branco o sorriso das crianças
São verdes, os campos, as matas
E o corpo das mulatas quando vestem Verde e rosa, é a
Mangueira
É verde o mar que me banha a vida inteira
Verde como céu azul a esperança

Branco como a cor da Paz ao se encontrar
Rubro como o rosto fica junto a rosa mais querida
É negra toda tristeza se há despedida na Avenida
É negra toda tristeza desta vida

Verde que te quero Rosa (é a Mangueira)
Rosa que te quero Verde (é a Mangueira)
Verde que te quero Rosa (é a Mangueira)
Rosa que te quero Verde (é a Mangueira)


ROSA QUE TE QUERO ROSA, JORGE

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...



Marta, perfeito: nossa normalidade pode ser charmosa num comercial de TV ou numa sedução de corpos sem palavras, cheiro ou movimento; já nossa encanto mora na nossa demência. ali na fronteira... onde emergem, ganham vida, "aparecem" as linhas da nossa diferença, nossa singularidade e devires...


O conceito de fronteira de Deleuze é a encruzilhada de G Rosa: encanto, perigo, redemoinhos e encantamentos e magias.


Abraços Jorge








sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Demência fonte do charme

Rizoma de blogs
Uzinamarta_Utopia Ativa


1 comentários:


Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

MARTA, VOCÊ ABORDA UM GRANDE TEMA... VI NA SUA POSTAGEM QUE DELEUZE JÁ ADOTAVA NA EXPERIÊNCIA A TRANSVERSALIDADE, EMBORA NÃO A CONCEITUASSE...

ESTOU LENDO UM LIVRO: BIOGRAFÍAS CRUZADAS DE FRANÇOIS DOSSE, QUE TRATA DAS VIDAS E DOS ENCONTROS... NELE, DELEUZE AFIRMA QUE NÃO SUPORTAVA A LOUCURA, ERA PARA MIM UM PARADOXO, ATÉ ESTA SUA POSTAGEM:NÃO SUPORTAVA MAIS JÁ A AMAVA...

JÁ GUATTARI ERA TÃO ANÁRQUICO NAS PRODUÇÕES QUE DELEUZE LHE IMPÔS UMA CRONOMETRAGEM APOLÍNIA DE 8 HS / DIA DE TRABALHO.

vAMOS LENDO, EXPERIMENTANDO E DESVELANDO A VIDA E NOSSOS AMORES.

UM GRANDE ABRAÇO, JORGE.

28 de janeiro de 2011 09:44
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Sim Jorge, parece que amava mesmo. Tinha parte com o Diabo... E com a erva do diabo.
abraço
Marta

"As pessoas só têm charme em sua loucura, eis o que é difícil de ser entendido. O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão.

Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não se pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não se captar o ponto de demência de alguém...
Ele pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme." DELEUZE . O Abecedário

Alegria, alegria!!!

Obrigada Landinho, Adriano, Vinício, Gegê que fizeram essa foto navegar até aqui. Nós!!!!!!!!!! Jovens. Troupe. Bando. Nômades. Festival de Inverno 1973. Ouro Preto. capital da contracultura
Nossos heróis de então: Judith Malina e Julian Beck. E Bené da Flauta!!!
Nossa causa: Liberdade
Nossas calças: Indigo blue
Nossos passeios: Cachoeiras, montanhas, lagoas, vilas, vilarejos, picos
Nossa comida: arroz integral, bardana, missô, torta de abóbara...
Nossos trabalhos: restauração de igrejas barrocas com o mestre Jair Inácio
Nossos estudos: Teatro com Celso Nunes ou com Jura Otera ou com Jonas Block; restauração e arte  na Faop com Jair Inácio, Amilcar de Castro, Nelo Nuno (falecido em 1973, aliás); Estética com Moacir Laterza. E por aí vai, muita coisa boa.... Coisas como Oscar Arraez, bailarino argentino, nos dando aula no Festival de Inverno... Rogério Escobar, música. Estudávamos Grécia com Laterza. Fizemos uma festa bacante pelas ruas de Ouro Preto até a Cachoeira das Andorinhas, onde caímos na água vestidos de lençõis , portando flores na cabeça, frutas, garrafas de vinho. Entramos na gruta. Banhamos assim. Dionísios. Deuses.
Nossas santa maluquices: 10 dias de arroz integral na cachoeira das Andorinhas, meia-noite subir para o Pico do Itacolomi, madrugada nadar na gruta.... Ir a pé pras festas de santos nos distritos. Poeira. Risadas.

Parece que foi ontem, mas faz tempo, tantas águas rolaram . Ficou a amizade. Ficou o amor. Ficaram alguns sonhos. Alguns se partiram. Partiram. Racharam. Fissura. A roda girando. E essa foto chegou numa hora hora boa da roda. Eterno retorno da  Alegria, alegria!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Eu, de casaquinho branco, atrás está a Betina (arquiteta paulista, nunca mais a vi) , no meio, o saltitante Landinho Ramos, ouropretano, ladeado pelos amigos desde a infãncia ouropretana do Rosário:  Silvinho e Vinício Godoy. Os outros eu não sei. Talvez o Gélcio Forte e o Vandinho. Éramos tantos. Não importava muito o nome, não importava nada de onde veio, para onde vai. Importava ali, o encontro. E  o que vamos fazer?  Á noite dançávamos na praça Tiradentes , tudo improvisado, coro, roda, nada mais nada menos do que o jovem, colega nosso no curso de teatro, futuro grande diretor teatral, Iacov Hilel, nos conduzia na rodas cada vez maiores. Solta alegria. E os homens da ditadura de olho na meninada. De madrugada, curtir a neblina... sumiço do real... apareciam os Inconfidentes. E a voz da Cecília Meireles das escadarias da Igreja do Carmo, em eco: "não fica a bandeira escrita, mas fica escrita a sentença".



Unhas



José Gil: Claro! A impressão que eu tenho, porque assisti, é que a pedago­gia e o ensino de Deleuze são dois: antes e depois do corte que há entre Lógica do sentido e o Anti-Édipo, ou seja, maio de 68. Assisti a essas duas maneiras de ensinar e verifiquei o seguinte: Deleuze era ofuscante antes de maio de 68, mais pejas idéias, pela inteligência e por um charme que ele tinha. Ele tinha um charme que sabia que tinha, ele estava consciente desse charme, e o usava um bocado ironicamente, utilizando as luvas brancas (por causa das unhas, possivelmente) e a maneira como falava com as mãos, no quadro. Todas aquelas eram estratégias de sedução. Depois de maio de 68, sua pedagogia modifica-se completamente. A impressão que eu tenho é que o próprio Deleuze foi aprendendo a sua pedago­gia nos primeiros anos de experimentação. Eu chamo isso de "a experimentação pedagógica do ensino do Anti-Édipo". Porque o Anti-Édipo é inimaginável, não se reproduziu, nem Foucault, nem Châtelet, ninguém fazia cursos assim. As aulas de Deleuze eram apinhadas de gente, fumo e fumaça por todo o lado, de vez em quando, as pessoas gritavam, tinha-se que abrir as janelas e ele espera­va, como sempre, muito calmo. Depois, alguns intervinham, riam-se para Deleuze e diziam: "Deleuze, ainda estás muito longe da loucura!" (como dizia um louco que lá estava). E Deleuze respondia: "Mas eu bem procuro, eu bem procuro aproximar-me!". Não havia, aparentemente, nenhum mandarinato, quer dizer, nenhuma hierarquia entre o professor e os alunos. Isto mesmo materialmente: ele sentava-se em uma cadeira, no mesmo nível que todos os outros que o rodeavam ou que ficavam em pé... "

Leia mais Entrevista com o  filósofo português José Gil, por Tomaz Tadeu e Sandra Corazza. Aliás, encontrei o link  num blog muitissímo bom, uma biblioteca de livros de filosofia, artes e mais: Gambiarre.


Passagens


Foi Hannah Arendt quem me apresentou Walter Benjamim. "Homens em tempos sombrios". Leitura preciosa. Nada mais nada menos do que o "percepto amoroso" da filosofa para com Rosa Luxemburgo, Karl Jaspers, Isak Dinesen, Brecht. Não lembro-me se tinha Heidegger no meio. Mas me lembro de  Walter Benjamin! O Acontecimento.  Na praia do Tombo, no Guarajujá, São Paulo, Hannah Arend me levou a viajar: Alemanha, Nazismo. Linhas de fuga: Espanha. Fronteira.  França. Ansiedade. Depressão. Suicídio. Promessa de um descanso? Logo na França. França de Paris? Paris de  de Passagens? Logo no Guarujá? Quando chorava por Walter Benjamin, um telefonema. Não havia celular. Década de 1980. Não sei bem. Um tempo em que não havia  celular e eu não tinha filhos. Vivia pelas praias. Leve e solta. Lendo. Conspirando contra o eterno retorno do nazismo. Me acharam no hotel. Um hotel no Guarujá. De um alemão. Um alemão estranho. Que gostava de dar tiros na calada da noite. Que nasceu na II Guerra Mundial. Diziam que ele era nazista. Não sei se era, mas era esquisito. Lembro-me dele e do hotel.  Um hotel muito estranho, estranho mas aconchegante. Eu lia na praia, em frente ao hotel. Hannah Arendt sobre Walter Benjamin. O telefone tocou. Eu não ouvi. Mas me chamaram. Atendi. Sua mãe morreu. Minha mãe morreu no dia que conheci Walter Benjamin. Não guardo fotos da minha mãe, mas sempre choro quando vejo a foto do Walter Benjamin.

" Um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois."

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pirates & Revolutionaries: Waves of Intensity Traversing the Meat of the Body without Organs


Pirates & Revolutionaires. Mais uma boa dica da Radio Deleuze, o blog que  De-De-De-Dele-Dele-Deleuze. Meu Obrigada a Clifford Duffy pelo link com  estudo das intensidades que atravessam a carne e o corpo sem órgãos: Waves of Intensity Traversing the Meat of the Body without Organs.




Quando o K serve para APRECIAR, fazer a DIFERENÇA, colocar o PROBLEMA...mas NUNCA JULGAR


K  Krítica Kant
D  Desejo Deleuze


Deleuze Educador. EDucador no entre, nos entre, nas entre... Nas entrelinhas, o Dom de ADmirar.

" Por que estudei Kant já que ele não tem nada em comum com Spinoza, nem com Nietzsche, apesar de este último ter lido muito Kant? Não temos a mesma concepção de filosofia. Mas por que, mesmo assim, Kant me fascina? Por dois motivos. Kant é tão cheio de sinuosidades. Um dos motivos é o fato de ele ter instaurado e levado a extremos o que nunca fora levado em Filosofia até então, que é a instituição de tribunais, talvez sob a influência da Revolução Francesa. Mas até então tentamos falar de conceitos como se fossem personagens. Antes de Kant, no século 18, que o precedeu, apresentou-se um novo tipo de filósofo, o investigador. Investigação. Investigação sobre o entendimento humano, investigação sobre isso e aquilo. O filósofo era visto como um investigador. Ainda mais cedo, no século 17, Leibniz foi, sem dúvida, o último representante desta tendência. Ele era visto como um advogado, ele defendia uma causa. E Leibniz pretendia ser o advogado de Deus! Como se Deus tivesse algo a ser repreendido. Leibniz escreveu um maravilhoso opúsculo sobre a causa de Deus. Era a causa jurídica de Deus, a causa de Deus defendida. Há um encadeamento de personagens: o advogado, o investigador e, com Kant, houve a chegada do tribunal, do tribunal da razão. As coisas eram julgadas em função de um tribunal da razão. E as faculdades, no sentido do entendimento, a imaginação, o conhecimento e a moral eram medidas em função deste tribunal. É claro que através de um determinado método prodigioso criado por Kant que chamaram de “método crítico”, que é o método propriamente kantiano. Todo este aspecto me deixa horrorizado, mas é um horror fascinado também, pois é genial ao mesmo tempo. Dentre os inúmeros conceitos que Kant inventou, está o do tribunal da razão que é inseparável do método crítico.

Meu sonho não é esse. Este é um tribunal do juízo. É o sistema do juízo, só que este não precisa mais de Deus. É um juízo baseado na razão, e não em Deus. Não abordamos este problema, mas posso fazê-lo agora, assim não precisaremos voltar a este assunto. Podemos procurar entender... Há um mistério nisso tudo. Podemos tentar entender por que alguém em particular, eu ou você, estaríamos ligados ou nos reconhecemos em determinado tipo de problema e não em outro? O que é a afinidade de alguém com um tipo de problema? Parecem-me os maiores mistérios do pensamento. Nós nos consagramos a problemas. E não é qualquer problema, isso também vale para os cientistas. A afinidade de alguém para determinado problema e não para outro. E uma filosofia é um conjunto de problemas com consistência própria, mas não pretende cobrir todos os problemas. Ainda bem! Eu me sinto ligado aos problemas que procuram meios para acabar com o sistema do juízo e colocar outra coisa no lugar. Dentre os grandes nomes dos que buscam isso, você tinha razão em falar de oposição, estão Spinoza, Nietzsche e, em Literatura, há Lawrence, e guardo um dos maiores para o final: Ataud. Todos para acabar com o juízo de Deus. Isso é muito importante, não é loucura: acabar com o sistema do juízo. Todas estas coisas fariam com que eu não tivesse tanto...
Mas, por baixo disso tudo, e, como sempre, é preciso buscar os problemas que se escondem sob os conceitos. E Kant traz problemas impressionantes, são maravilhas. Ele foi o primeiro a ter feito uma inversão de conceitos impressionante. É por isso que tanto me entristece quando vejo ensinarem aos jovens, mesmo no nível de vestibular, uma filosofia tão abstrata sem tentar fazer com que participem de problemas, que são fantásticos e muito interessantes. Posso dizer que até Kant o tempo derivava do movimento. Ele era secundário em relação ao movimento. Ele era considerado como número ou medida do movimento. O que fez Kant? Não importa como, pois há criação de um conceito. Em tudo o que digo, só tem isso! Estamos sempre avançando no tema “o que é um conceito”. Ele criou um conceito porque inverteu a subordinação. Para ele, é o movimento que depende do tempo. De repente, o tempo muda de natureza, deixa de ser circular. Porque quando o tempo está subordinado ao movimento, por razões longas demais para explicar agora, é o grande movimento periódico, é o movimento de rotação periódica dos astros. Portanto, o movimento é circular. Mas quando o tempo se liberta do movimento e que este passa a depender do tempo, o tempo se torna uma linha reta. Sempre me faz pensar na frase de Borges, apesar de ele ter alguma coisa a ver com Kant: “O labirinto mais terrível do que um labirinto circular é um labirinto em linha reta”. Isso é uma maravilha, mas é Kant! É ele que destaca o tempo. Além do mais, estas histórias de tribunal que medem o papel de cada faculdade em função de tal finalidade... Até que, no final de sua vida, ele foi um dos raros a ter escrito já muito velho um livro onde reviu tudo. A crítica da faculdade do juízo. Ele chega à idéia de que é preciso que as faculdades se relacionem desordenadamente, que se oponham e se reconciliem, mas que haja uma batalha das faculdades e não mais as medidas justifiquem um tribunal. Ele lançou sua teoria sobre o sublime em que as faculdades entram em discordância, em acordos discordantes. Aí, eu gosto muito disso, destes acordos discordantes, deste labirinto em linha reta, sua inversão da relação. Toda a filosofia moderna veio daí, de que não era mais o tempo que provinha do movimento e, sim, o contrário. É uma criação de conceitos fantásticos. E toda a concepção do sublime com os acordos discordantes das faculdades me tocam profundamente. É claro que ele é um grande filósofo. Um grande filósofo. Ele tem um embasamento que me entusiasma, mas o que está construído em cima disso não me toca em nada. Não estou julgando. É apenas um sistema de juízo que gostaria de ver acabado. Mas não julgo."
Fonte: O Abecedário de Gilles Deleuze K - Kant.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

São São Paulo

"Porém com todo defeito, Te carrego no meu peito"

Tom Zé, em Festival de Música da Record, em 1968, primeiro lugar com a música "São , São Paulo meu amor".  O segundo lugar foi pra Edu Lobo, com uma música para mim: Marta Saré.... "Pra dentro, Marta Saré....". Quem viveu, viveu, não viverá mais esse momento de jubílio libertário em plena ditadura.



"Quem quiser ver o samba amanhecer, vai no Bixiga pra ver, vai no Bixiga pra ver."  Geraldo Filme




São Paulo, minha gente, tão mal falada pelo Brasil afora. Violência, enchente, trânsito, poluição, miséria, pobreza, contraste... É isso também, mas é muito mais. É um caos? É um cosmos? É um caosmo. Se fosse tão ruím como dizem, como explicar tanta gente? São Paulo é ruím? Depende. São Paulo é bom. Depende. São Paulo é ruím, São Paulo é bom? São Paulo é ótimo. Metrópole. Corpo vibrátil. Vibrante.

Não tenho saudade da roça.... Somos 15 milhões de capiaus. 15, 14, 18? Sei lá, perdi a conta. Multidão de anônimos!