segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tributo Lewis Carroll I - Jabberwocky - nonsense poem

Esse post é dedicado ao meu filho, Maurício
























"o lugar privilegiado de Lewis Carroll provém do fato de que ele faz a primeira grande conta, a primeira grande encenação dos paradoxos do sentido, ora recolhendo-os, ora renovando-os, ora inventando-os, ora preparando-os."
Deleuze - Lógica do sentido


Jabberwocky

Lewis Carrol
‘Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

“Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!”

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And, as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! And through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

“And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!”
He chortled in his joy.

Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.



Jaguardarte

tradução de Augusto de Campos

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

“Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!”

Êle arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo.
Na árvora Tamtam êle afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, ôlho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta, e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

“Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!”
Êle se ria jubileu.

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.




Carroll, Deleuze e a literatura de superfície

" Deleuze concede a Carroll o lugar privilegiado de ter feito a primeira mise em scène dos paradoxos do sentido na literatura, de ser o inventor da literatura de superfície, pois através do paradoxo se destitui a profundidade e as coisas se mostram na superfície. O humor é esta arte de superfície, contra a velha ironia, arte das profundidades e das alturas. Por isso Carroll, elegendo o paradoxo como sua arte básica, é o autor da superfície, como os estóicos foram os filósofos da superfície, também eles adeptos dos paradoxos. Ao contrário do senso comum que afirma um sentido único, o paradoxo afirma dois sentidos ao mesmo tempo. Daí que as inversões/reversões de Alice (na ordem do tempo, reversões de proposições, reversões de causa e efeito, etc.) surgem como um paradoxo da identidade infinita e conduzem à contestação da identidade pessoal de Alice, tema que atravessa suas aventuras. Segundo Deleuze, a descida de Alice nas profundidades do poço dá lugar a movimentos laterais de expansão, a profundidade se faz superfície, os animais dão lugar à figuras de carta, sem espessura. Não há aventuras de Alice, diz Deleuze, mas uma aventura: sua ascensão à superfície (por isso, crê o filósofo, duvidosamente, desistiu de do título inicial da obra Alice´s adventures under ground ). A obra de Carroll joga permanentemente com a dualidade dos sentidos, com a proliferação indefinida dos mesmos, com a criação de jogos sem regras definidas e contraditórias entre si, etc. O não sentido na filosofia do absurdo se opõe à ausência de sentido, produzindo um excesso de sentido. É o que Deleuze entende por non-sense identificando-o, portanto, ao paradoxo... "
Sebastião Uchoa Leite 





A Fissura VI - por Jorge Bichuetti

Rizoma de Blogs




DEPENDÊNCIA QUÍMICA: AVENTURA, VIAGEM OU SERVIDÃO
 ( II )
A FISSURA (A)


Madrugada, seresta, sereno... Estrela da manhã...
Silêncio nos ruídos;
ruídos no silêncio...
Uma taça de cristal na mesa, luz vermelha...
Um corpo nu na calçada, sedução...
A vida gira e girando move-se,
não vê, nem escuta o que se dá na escuridão...
Luzes vermelhas clareiam, mas só clareiam o beijo e a conjunção...
De repente, um canto... Canto de sereia? ...
Um diabo do redemoinho? uma encruzilhada...
A sobriedade de muitos hoje não, se corrompe,,,
Ea  a taça de cristal se quebra, caindo nua no chão...
A fissura se impôs, feito um vulcão...
***
Um homem vivendo sóbrio durante longos dias...
Um casal amando-se como se o amor fora um bem da eternidade...
Sem motivos, sem causalidade, uma fissura quebra a sobriedade e põe fim na ilusão de uma felicidade sem fim.
***
Como entender? Como cuidar?
" A fissura não é nem interior nem exterior, ela se acha na fronteira, insensível, incorporal, ideal." p 158
Se é da fronteira, pode-se inferir que é produtudo de uma desterritorialização maximizada...
Desterritorializada, mantêm relações complexas com o universo das interferências e dos cruzamentos; vivenvia junções saltitantes...onde o o direito ao risco e à liberdade são agenciadas pela idéia da da morte como acontecimento, uma morte impessoal...
***
Valendo-me de Foucault, para resgatar aqui a idéia de caixa-de ferramentas, recordo Pierre Weil que identificava no desejo de autodestruição, um desejo de morte do ego e de reinvenção da vida..
***
De fato. a fissura recria a gramática e a pessoa passa a se pensar num passado composto; que é um passado que incuindo o presente permite bifurcações...
***
A fissura é um vulcão...
Dela, não se pode sair retrocedendo-se... pois o cristal está fragmentado, a porcelana quebrada...
***
Que fazer?
Deleuze propõe uma contra-efetuação...
Se o canto da sereia seduziu...
Se o redemoinho do diabo nos capturou...
Se algo rompeu e se esfacelou... E se isssi ocorreu na superfície, e não nas profundidades que estamos acostumados a reprimir, Só há uma uma saída...
Ele a nomeou de psicodelismo....
Desterritorializamos tanto, que ou inventamos sem agentes deletérios e mortíferos uma nova vida, ou não sobrevivemos...
A loucura, a alegria, o prazer e a utopia sempre estão condicionados a agenciamentos químicos: e daí a fissura como morte...
Necessitamos de incorporá-los como modo de vida e horizonte de sonhos...
O cristal continuará quebrando-se, mas teremos asas para voar além dos próprios cacos.
O vulcão lançará sua chamas, mas já teremos construído uma vida para além dos ocos e abismos das toxinas vulcânicas...
Uma vez que a liberdade será um plano afirmativo construído na desterritoialização, mas gerando uma nova territorialidade solidária , terna, meiga e psicodélica.

Diferença

 
"Tirar a diferença de seu estado de maldição parece ser, assim, a tarefa da filosofia da diferença."
Gilles Deleuze