sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Demência fonte do charme

Rizoma de blogs
Uzinamarta_Utopia Ativa


1 comentários:


Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

MARTA, VOCÊ ABORDA UM GRANDE TEMA... VI NA SUA POSTAGEM QUE DELEUZE JÁ ADOTAVA NA EXPERIÊNCIA A TRANSVERSALIDADE, EMBORA NÃO A CONCEITUASSE...

ESTOU LENDO UM LIVRO: BIOGRAFÍAS CRUZADAS DE FRANÇOIS DOSSE, QUE TRATA DAS VIDAS E DOS ENCONTROS... NELE, DELEUZE AFIRMA QUE NÃO SUPORTAVA A LOUCURA, ERA PARA MIM UM PARADOXO, ATÉ ESTA SUA POSTAGEM:NÃO SUPORTAVA MAIS JÁ A AMAVA...

JÁ GUATTARI ERA TÃO ANÁRQUICO NAS PRODUÇÕES QUE DELEUZE LHE IMPÔS UMA CRONOMETRAGEM APOLÍNIA DE 8 HS / DIA DE TRABALHO.

vAMOS LENDO, EXPERIMENTANDO E DESVELANDO A VIDA E NOSSOS AMORES.

UM GRANDE ABRAÇO, JORGE.

28 de janeiro de 2011 09:44
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Sim Jorge, parece que amava mesmo. Tinha parte com o Diabo... E com a erva do diabo.
abraço
Marta

"As pessoas só têm charme em sua loucura, eis o que é difícil de ser entendido. O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão.

Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não se pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não se captar o ponto de demência de alguém...
Ele pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme." DELEUZE . O Abecedário

Alegria, alegria!!!

Obrigada Landinho, Adriano, Vinício, Gegê que fizeram essa foto navegar até aqui. Nós!!!!!!!!!! Jovens. Troupe. Bando. Nômades. Festival de Inverno 1973. Ouro Preto. capital da contracultura
Nossos heróis de então: Judith Malina e Julian Beck. E Bené da Flauta!!!
Nossa causa: Liberdade
Nossas calças: Indigo blue
Nossos passeios: Cachoeiras, montanhas, lagoas, vilas, vilarejos, picos
Nossa comida: arroz integral, bardana, missô, torta de abóbara...
Nossos trabalhos: restauração de igrejas barrocas com o mestre Jair Inácio
Nossos estudos: Teatro com Celso Nunes ou com Jura Otera ou com Jonas Block; restauração e arte  na Faop com Jair Inácio, Amilcar de Castro, Nelo Nuno (falecido em 1973, aliás); Estética com Moacir Laterza. E por aí vai, muita coisa boa.... Coisas como Oscar Arraez, bailarino argentino, nos dando aula no Festival de Inverno... Rogério Escobar, música. Estudávamos Grécia com Laterza. Fizemos uma festa bacante pelas ruas de Ouro Preto até a Cachoeira das Andorinhas, onde caímos na água vestidos de lençõis , portando flores na cabeça, frutas, garrafas de vinho. Entramos na gruta. Banhamos assim. Dionísios. Deuses.
Nossas santa maluquices: 10 dias de arroz integral na cachoeira das Andorinhas, meia-noite subir para o Pico do Itacolomi, madrugada nadar na gruta.... Ir a pé pras festas de santos nos distritos. Poeira. Risadas.

Parece que foi ontem, mas faz tempo, tantas águas rolaram . Ficou a amizade. Ficou o amor. Ficaram alguns sonhos. Alguns se partiram. Partiram. Racharam. Fissura. A roda girando. E essa foto chegou numa hora hora boa da roda. Eterno retorno da  Alegria, alegria!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Eu, de casaquinho branco, atrás está a Betina (arquiteta paulista, nunca mais a vi) , no meio, o saltitante Landinho Ramos, ouropretano, ladeado pelos amigos desde a infãncia ouropretana do Rosário:  Silvinho e Vinício Godoy. Os outros eu não sei. Talvez o Gélcio Forte e o Vandinho. Éramos tantos. Não importava muito o nome, não importava nada de onde veio, para onde vai. Importava ali, o encontro. E  o que vamos fazer?  Á noite dançávamos na praça Tiradentes , tudo improvisado, coro, roda, nada mais nada menos do que o jovem, colega nosso no curso de teatro, futuro grande diretor teatral, Iacov Hilel, nos conduzia na rodas cada vez maiores. Solta alegria. E os homens da ditadura de olho na meninada. De madrugada, curtir a neblina... sumiço do real... apareciam os Inconfidentes. E a voz da Cecília Meireles das escadarias da Igreja do Carmo, em eco: "não fica a bandeira escrita, mas fica escrita a sentença".



Unhas



José Gil: Claro! A impressão que eu tenho, porque assisti, é que a pedago­gia e o ensino de Deleuze são dois: antes e depois do corte que há entre Lógica do sentido e o Anti-Édipo, ou seja, maio de 68. Assisti a essas duas maneiras de ensinar e verifiquei o seguinte: Deleuze era ofuscante antes de maio de 68, mais pejas idéias, pela inteligência e por um charme que ele tinha. Ele tinha um charme que sabia que tinha, ele estava consciente desse charme, e o usava um bocado ironicamente, utilizando as luvas brancas (por causa das unhas, possivelmente) e a maneira como falava com as mãos, no quadro. Todas aquelas eram estratégias de sedução. Depois de maio de 68, sua pedagogia modifica-se completamente. A impressão que eu tenho é que o próprio Deleuze foi aprendendo a sua pedago­gia nos primeiros anos de experimentação. Eu chamo isso de "a experimentação pedagógica do ensino do Anti-Édipo". Porque o Anti-Édipo é inimaginável, não se reproduziu, nem Foucault, nem Châtelet, ninguém fazia cursos assim. As aulas de Deleuze eram apinhadas de gente, fumo e fumaça por todo o lado, de vez em quando, as pessoas gritavam, tinha-se que abrir as janelas e ele espera­va, como sempre, muito calmo. Depois, alguns intervinham, riam-se para Deleuze e diziam: "Deleuze, ainda estás muito longe da loucura!" (como dizia um louco que lá estava). E Deleuze respondia: "Mas eu bem procuro, eu bem procuro aproximar-me!". Não havia, aparentemente, nenhum mandarinato, quer dizer, nenhuma hierarquia entre o professor e os alunos. Isto mesmo materialmente: ele sentava-se em uma cadeira, no mesmo nível que todos os outros que o rodeavam ou que ficavam em pé... "

Leia mais Entrevista com o  filósofo português José Gil, por Tomaz Tadeu e Sandra Corazza. Aliás, encontrei o link  num blog muitissímo bom, uma biblioteca de livros de filosofia, artes e mais: Gambiarre.


Passagens


Foi Hannah Arendt quem me apresentou Walter Benjamim. "Homens em tempos sombrios". Leitura preciosa. Nada mais nada menos do que o "percepto amoroso" da filosofa para com Rosa Luxemburgo, Karl Jaspers, Isak Dinesen, Brecht. Não lembro-me se tinha Heidegger no meio. Mas me lembro de  Walter Benjamin! O Acontecimento.  Na praia do Tombo, no Guarajujá, São Paulo, Hannah Arend me levou a viajar: Alemanha, Nazismo. Linhas de fuga: Espanha. Fronteira.  França. Ansiedade. Depressão. Suicídio. Promessa de um descanso? Logo na França. França de Paris? Paris de  de Passagens? Logo no Guarujá? Quando chorava por Walter Benjamin, um telefonema. Não havia celular. Década de 1980. Não sei bem. Um tempo em que não havia  celular e eu não tinha filhos. Vivia pelas praias. Leve e solta. Lendo. Conspirando contra o eterno retorno do nazismo. Me acharam no hotel. Um hotel no Guarujá. De um alemão. Um alemão estranho. Que gostava de dar tiros na calada da noite. Que nasceu na II Guerra Mundial. Diziam que ele era nazista. Não sei se era, mas era esquisito. Lembro-me dele e do hotel.  Um hotel muito estranho, estranho mas aconchegante. Eu lia na praia, em frente ao hotel. Hannah Arendt sobre Walter Benjamin. O telefone tocou. Eu não ouvi. Mas me chamaram. Atendi. Sua mãe morreu. Minha mãe morreu no dia que conheci Walter Benjamin. Não guardo fotos da minha mãe, mas sempre choro quando vejo a foto do Walter Benjamin.

" Um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo que veio antes e depois."