terça-feira, 2 de novembro de 2010

Augusto dos Anjos

O que seria do  feriadão sem o poema?   Neste reencontrei um velho conhecido: Augusto dos Anjos.

" A carne é fogo. A alma arde." 

" Acostuma-te à lama que te espera!"

" Escarra nessa boca que te beija!"

"Bela na Dor, sublime na Descrença."
" O epitalâmio da Suprema Falta "

   "Feias agregações pentagonais"

"Deixa beijar-te a face que descora!"


"Morde-me a goela ígneo e escaldante molho"

"Hás de engolir, igual a um porco, os restos"

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Esse Augusto me pira, não somente pelo temas (agonizantes?), e sim, principalmente,  pelos estalidos.  
Que sonoridade fantástica.
Minha cabeça está "como as estalactites duma gruta".

Escolhi Vandalismo como o seu mais bonito poema para não ficar mais em dúvida sobre qual é o mais bonito (e doido!) poema de Augusto dos Anjos. Ou será dos Anjos do Augusto?

Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longínquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.

Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos ...

E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!



Amauri Ferreira e a Biblioteca Nômade

Gasto com prazer meu batalhado dinheiro com livros. E aproveito sempre que possível os disponíveis (download free) na rede. Assim, sou frequentadora assídua da Biblioteca Nômade, organizada por Amauri Ferreira.

Amauri é o meu  professor de filosofia. Meu e de tantos outros, ou melhor,  tantas outras, pois há muito mais  mulheres fazendo cursos de filosofia, poucos homens ! Venho estudando com o Amauri os pensadores da filosofia da diferença: Deleuze-Guattari, Spinoza e Nietzsche.  Outros virão, Bergson e Foucault, por exemplo. 

As aulas do Amauri são obras de arte. Elas vêm me ajudando muito a esculpir a vida. Sou muito grata ao Amauri por isso. A gente nem mesmo se vê, pois faço os cursos à distância . Mas estou  firme no diálogo mental com o mestre, semanalmente atualizado. Pena que está acabando o curso do "Zara". Outros virão.

Ouço as aulas em casa, às vezes com arguta atenção, anotando, lendo, acompanhando a fala do Amauri. Outras vezes escuto sem grande ambição a lição.  Escuto e, por exemplo, vou lavando as  louças, cozinhando o almoço de amanhã... Coloco o fone de ouvido e ouço uma aula. Lavar louças ou cozinhar ouvindo a palavra de Nietzsche via Amauri é muito bom. Caminhando também é bom. Ouço as aulas do Amauri às vezes caminhando. Porém, muita  atenção: atravessar ruas assim é um perigo.  

Em 2010, estamos estudando o Assim falou Zaratustra (que, carinhosamente chamo de "Zara").   Todos os alunos compraram o livro!!! Mas o Amauri vem disponibilizando na Biblioteca Nômade textos importantes para ampliar a compreensão das leiturasda obra do Nietzsche. Exemplo, para o Assim falou Zaratustra, ele disponibilizou ao menos três  muito bons,  que recomendo:
- Ressentimento: veneno do espírito, por Spartaco Vizzoto

- Aula sobre o aforismo 354 de "A gaia ciência", por Oswaldo Giacoia Júnior

- "Interpretações de Nietzsche mundo afora", entrevista com Scarlett Marton



Las Madres

"Elas não param... querem seus filhos; mas já não os querem no desejo individualista, querem eles vivos nos seus sonhos e nos que motivaram suas vidas , os sofridos, os oprimidos, os excluídos...

De todos , elas são mães... E não são verticalmente, radicalizando o amor revolucionário de seus filhos, gritaram: O outro sou eu..." Jorge Bichuetti

Rizoma de blogs
Uzina - Utopia Ativa

Zé Dirceu

Excelente entrevista ontem no Roda Viva, TV Cultura, com Zé Dirceu. 

Jornalistas um bocado despreparados para a conversa, Marília Gabriela quase se deitou na bancada, Augusto Nunes mais parecia um playboy irresponsável, Paulo Moreira Leite lembrava uma vovó caducando.  Os outros dois jornalistas, da Isto É e da Carta Capital, bem melhores.

Zé Dirceu deu um show de Brasil. Reformas política e administrativa, por exemplo, ele colocou claramente: são necessárias inclusive para diminuir as margens de corrupção no Estado. A questão da liberdade de imprensa, muito bem colocada : há que se ter mecanismos de controle democrático dos meios de comunicação, especialmente da TV. Muito boas colocações também sobre a questão religiosa na campanha e sobre as conduções das campanhas nas eleições de 2010.  Informações preciososas sobre o Congresso: há problemas no Congresso, mas não é uma letra morta, vem trabalhando, aprovando leis importantes para o país.

Houve momentos da entrevista que pensei não iria continuar tamanha a burrice da trinca de jornalistas que não conseguem ir além do senso comum, que não superam essa mania de expiar bodes e que tratam a política como colunismo social. Ou seja, haja superficialidade! Maldosa superficialidade. Os jornalistas mais bem pagos são justamente os piores.

O Zé Dirceu está em alta performance. E ainda vai falar muito e dar muito o que falar. Ele tem conteúdo. Ele pensa  o Brasil.  Por isso, venho acompanhando seu website, desde que ele foi cassado. Não tenho mania de expiar bodes. E gosto de quem pensa a Política com P maiúsculo. Mesmo quando erram, os pensadores contribuem mais do que os tais "formadores de opinião", que ao meu ver não formam nada, pois nem mesmo informam.

Claro, tenho amigos que vão me jogar pedras por eu ter escrito isso sobre o Zé Dirceu. Danem-se as pedras!