quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Devir revolucionário

"Diz-se que as revoluções têm um mau futuro. Mas não param de misturar duas coisas, o futuro das revoluções na história e o devir revolucionário das pessoas.(...).  A única oportunidade dos homens está no devir revolucionário, o único que pode conjurar a vergonha ou responder ao intolerável."
Deleuze - Controle e devir - Conversações - entrevista a Toni Negri - 1990

A Fissura VII - Bichuetti completa trilogia inspirada em Porcelana e Vulcão, de Deleuze

Rizoma Uzina - Utopia Ativa





DEPENDÊNCIA QUÍMICA :
AVENTURA VIAGEM OU SERVIDÃO
( III )

A FISSURA
 ( II )


Um espectro de morte ronda os lisérgicos vôos da fissura... A morte impessoal... Um acontecimento...

Na fronteira, os tempos se enovelam e se impera uma presentificação do futuro e do passado.

Só uma grande saúde livra e libera o indivíduo de efetuar uma inscrição, uma incorporação, uma tatuagem desta "porcelana esfacelada" no corpo, interiorizando uma feroz e incontrolável destrutividade.

O endurecimento absoluto do presente inibe a caminhada e o processo de vida.

Para limitar, impedir , inibir a inscrição deste acontecimento no corpo, é necessário uma contra-efetuação:" dar a chance da fissura sobrevoar seu campo de superfície incorporal sem se deter na quebradura de cada corpo", pois "a fissura é nada se não compromete o corpo" ( p. 164).

Deleuze determina sua análise, num movimento de esperança e afirmação das potência inventivas da vida:

-" Não podemos renunciar à esperança de que os efeitos da droga ou do álcool( suas "revelações") poderão ser revividos e recuperados por si mesmos na superfície do mundo, independentemente do uso das substâncias, se as técnicas de alienação social que os determinam são convertidas em meios de exploração revolucionários" ( p. 164-165)

- Metralhamento da superfície para transmutar o apunhalamento dos corpos, ò psicodelia" (p. 165)

Uma sobriedade psicodélica, surreal e insurgente

A sobriedade cinzenta, alienada, de repetições restritivas e normôticas vulnerabilizam o indivíduo que na fissura se vê desarmado e não contra-efetua uma desterritorialização criativa e inventiva, multicolorida e estelar, sem expor seu corpo, que é um corpo estriado com quebraduras ávidas dos miasmas da fissura...

Uma vida metamorfoseante, de singularidade e multiplicidade, de corpo alisado pelas experimentações que se realiza e gera linhas de fuga, torna-se um corpo apto à contra-efetuação, ou seja, um corpo onde as lavas do vulcão não o penetra, nem corre em suas veias a porcelana pulverizada da fissura...

A fissura não se inscrevendo, nem penetrando as entranhas do seu corpo, é estrela cadente, vagalume moribundo ou fogo fátuo...

Cuidar, assim, é liberar o homem das alienações que o distancia da diferença, da singularidade, da multiplicidade, das redes rizomáticas e dos devires... Liberado destas alienações ele toma posse do que pode uma vida que livre borboleteia nos horizontes mágicos do novo, da criatividade e das atualizações insurgentes de virtualidades transcósmicas.