quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DELÍRIOS

Em sequência ao Delirante Augusto dos Anjos, o  Anjo Delirante Jorge Bichuetti, cura de corpos sem órgãos.




AS ENTRANHAS DO DELÍRIO

JORGE BICHUETTI

 

".... Ora, ora, navios entre estrelas".

Esta resposta ouviu Nize da Silveira quando tentava entender um delírio.

Freud o concebia como familialista, redutível à uma vivência passada, a um complexo, a uma ferida - a dor da castração...

Baságlia e os surrealistas o entedem como desrazão; assim, são indecifráveis pela lógica positiva e matemática do nosso cientificismo...

Ele anda nos territórios da poesia, da magia, do misticismo, da imaginação: outra racionalidade...

Deleuze-Guatari oos perceberam como histórico-geográfico-social...

Na clínica, a pergunta fecunda não é a do significado...

Penso que neles emergem perguntas que poderiam ser, assim, traduzidas:


- Que denunciam e o que anunciam?

- Que linhas de fuga se ocultam virtuais no seu emaranhado caótico?

- Que singularidade e multiplicidades estão ali pulsando e tentando atualizarem-se?

- Que devires perambulam silenciosos no coração de um delírio?

- Que diferença pulula, borboleteando ou vagalumeando, na pele arrepiada do delírio?

- Que utopia ativa mora nele e e clama por um novo mundo?

A psicopatolgia clássica se contenta em definí-lo como um juízo falso, incapaz de ser transformado ou destruído pela argumentação...

Os analistas ortodoxos os interpretam, sobreodificando-os e lhes dando uma coerência racional.

Assim, pouco se tem conseguido com a clínica da psicose.


É que somos, frequentemente, ortopédicos, quando o delírio se revela, como potência virtual de reinvenção da vida... e do mundo.

Cliniquemos no entre e na transversalidade, e os delírios se revelarão uma artimanha do insconsciente que deseja o amanhã, oo novo, a diferença, o devir...

O território do delírio é o território da mudança... Mudança do delirante e do terapêuta, da vida vivida e da vida a ser reinventada, do mundo sofrido e do mundo sonhado...

Nele, encontramos as sementes, as flores e os frutos dos sonhos...

Sonhos de todos e da vida... Os sonhos do arco-íris que deseja o velório e o sepultamente da tempestade.


Para completar o trio de Poetas Anjos Delirantes:

 Manoel de Barros


"Os delírios verbais me terapeutam."