quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Goya

Francisco de Goya y Lucientes (1746-1828)

Natureza-morta: um perú morto
Óleo sobre tela, 45 x 63 cm
Museo del Prado



Marcos Chaves: a arte que morre de rir




quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Radio Deleuze: um blog que gagueja

Uma das nossas boas conquistas territoriais desterritorializantes no ciberespaço deleuzeano: encontro com a Rádio Deleuze, um blog que fala livremente e, por isso, gagueja...

Nas entrelinhas do Natal

Acho ´Natal uma festa chatíssima porque uma obrigação social. Basta isso para ser chato até a medula. E além dessa obrigação geral, vem as outras obrigações secundárias: comer chester, dar presente, tomar champagne, vestir roupa branca, calcinha vermelha, cumprimentar todo mundo até quem você não gosta etc e tal. É uma baboseira sem fim do espírito de rebanho do qual  mantenho "distância à léguas", como dizia minha mãe.

Mas vejo ou antevejo nas entrelinhas do Natal um certo sossego coletivo que me fascina. Vai chegando perto do tal dia de Natal, isso vai crescendo. Pessoas entrando de férias, uns dias de atoismo, uns dias de não fazer nada, uns dias de parar de comprar, de parar de circular que nem barata tonta, as ruas vão se acalmando, os aeroportos e rodoviárias vão se esvaziando, as pessoas vão se acalmando, ficando mais gentis, mais leves, mais esquecidas da vida, com as risadas mais soltas, com um um ar de "dá um tempo"...  Desse virtual de  um mundo diferente e fascinante nas entrelinhas do Natal, participo e adoro.

Desejo a todos os amigos desse blog, felizes entrelinhas natalinas. 

Neste final de ano, vamos ficar lentox total neste blog.  Sugerimos a todos a mesma coisa. Ficar à toa ou, no mínimo, ficar devagar, divagar, delirar, fazer o que der na telha, não fazer nada, dormir, comer, amar, dormir outra vez, acordar, esquecer, começar de novo, nova garrafa de vinho, novo cigarro, novo passeio, novo mergulho, novo poema, novo romance, de novo pros lençóis, amor de novo, novo amor e por aí vai................... Apenas sugestão, sabendo que há muitas, n, infinitas possibilidades nas entrelinhas do Natal.

Beijos fraternos a  todos os  queridos amigos e queridas amigas desse blog e da pessoa que faz o blog, que sou eu.  Ano que vem, vamos uzinar mais, mas diferente!!!  

Marta




A rádio Uzinamarta oferece essa música ao Vinício Godoy, profeta do devagar e do divagar.   



Ao Jorge Bichuetti, meu Brasil brasileiro, que tem sido o amigo mais amigo desse blog e que tem gostado muito de samba - III.  Beijos Jorge, feliz Natal e muita Utopia Ativa em 2011!!!



Ao meu filho Maurício que está descobrindo a potência da música de Villa Lobos que vai muito além das lindas Bachianas...


sábado, 18 de dezembro de 2010

TAO


Yi Tin, Yi Yiang, tche wei Tao
Um tempo Yin, um tempo Yang
Eis a via, eis o Tao.


Henri Michaux - Ideogramas na China



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

DEVIRES SUFI : ALEGRE ENCONTRO COM FAHREDIN SHEHU






Há muitos anos tenho a intuição de que a qualquer hora iria encontrar o Sufi.  Foi viajando pela Andaluzia na Espanha que entrei em contato com a poesia Sufi, em Cordoba, uma das cidades mais lindas que já vi...  Desde lá, um poema ali, uma fala do Osho vez em quando, uma outra informação aqui e o Sufi vem entrando devagarzinho no meu mundo... Chegou a hora de uma conversa sobre isso. E ela vai rolar aqui no blog, rizomas com Fahredin Shehu, poeta, calígrafo, sufista, estudioso da cultura oriental, que vive em Pristina, capital do Kosovo.   Vamos falar de  poesia, caligrafia, Sufi, cultura árabe, paz, diferença e convivência étnica cultural etc.  E vamos ter tradução para o português. Entrevistas curtas!!! Aos poucos, doesas homeopáticas...

Por enquanto, segue  trecho de um artigo (muito longo, por isso não dá para publicar aqui) que Fahredin Shehu enviou  sobre a SEMA, uma dança, a dança sufi, muito ligada aos nomes de Rumi e Osho. O texto é em italiano, mas muito fácil de compreender para todos nós, latinos!!!!!!!! 




La Sema, lo Semasa, La Danza Rituale L’esoterismo e l’arte di Rumi


""La sema è la manifestazione del movimento dei corpi celesti la dove lo Sceikh cioè colui che dirige la Sema il mentore; simboleggia il sole oppure l’asse del sistema dinamico della Galassia, invece i Dervisci, gli iniziati in un movimento circolare simboleggiano i pianeti, cosi ché abbiamo a che fare con una danza celeste di unificazione con il Cosmo.
La testa del danzatore della semasa7, si piega a 23°,piegamento identico al asse del pianeta Terra, questo fa si che il liquido del orecchio non si muovi perdendo cosi l’equilibrio. Un piede si mantiene fisso per terra, legato alla gravità, cosi che la linea invisibile verticale tra l’orecchio e la gamba tiene ben saldo il semasa ad non perdere l’equilibrio e cadere.


Anche le mani hanno la loro funzione: quando i palmi della mano sono rivolte una verso il celo e l’altra verso la terra. Una viene dedicata alla luna e l’altra al sole, tutto questo accompagnato con una musica composta appositamente per l’atto della Sema spesso anche vocale."
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EU QUERO UM AMANTE...
 RUMI



que quando se mova,
ou se levante,
deva erguer-se da morte,
jorrando fogo para todos os lados.

Nós ansiamos por um amor
como o inferno;
um amor que queima
do inferno até a superfície;
um amor que desafia as ondas do mar
e atira centenas de mares no fogo.

Envolve os céus
como um lenço em suas palmas.
E suspende a luz inexaurível
no forro do mundo.

Com a humildade de um crocodilo
deve lutar como um leão,
não deixando ninguém exceto ele mesmo;
luta, então, com ele mesmo.

deve rasgar as sete cortinas do amor
com a intensidade da sua luz
e os céus devem responder:
'Maravilha! Maravilha!
Uma vez que ele encontre a saída do Sétimo Mar
e dirija-se ao Monte Kaf, ele deverá
distribuir muitas pérolas e corais
pelos continentes da terra...'"

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Grécia, berço da democracia!!! Eis o que rola, 25 séculos após Platão!



Impressionante o envolvimento das crianças e dos jovens nas lutas anti políticas neoliberais na Europa. Acabou a infância? Ou as crianças e jovens se cansaram desse mundo adulto e rabugento?




VILANIA

Como é que no Brasil  se permite que se derrube um imóvel feito este da rua Augusta (São Paulo - Capital)  para levantar um enorme edifício no lugar....? Cadê o Iphan? Cadê o os órgãos de defesa do patrimônio paulistano e paulista? 
O Iphan alega que não conhece a história da casa... e, portanto, ela pode ser derrubada...  

Isso sim é putaria!



A rua Augusta está deteriorada, abandonada, suja? Sim, mas a responsabilidade disso não é do povo que vive nas imediações , nem dos cabarés e muito menos das prostitutas que rodam bolsinhas por ali. A responsabilidade é dos dirigentes, é das elites, é dos proprietários, é dos bem estudados, é dos planejadores urbanos, é dos que têm poder de mando e fazem de São Paulo uma cidade de shoppings centers. Assim, matam as ruas, matam a vida, matam a alegria, matam o patrimônio histórico e arquitetônico, matam o meio de ganhar a vida de milhares de pessoas, matam a civilidade da cidade.


Depois de esfolar as ruas e o patrimônio, vem a especulação imobiliária outra vez.... E levanta os espigões, atraindo mais carros para a região (4 quartos, 8 garagens!!!!). E fazem a cidade ficar mais feia, mais triste, mais poluída, mais morta. Há quem adore cidades mortas, só para automóveis, só para edifícios de aparência moderna.

Tem que ser assim? Há quem diga que tem que ser assim. Mas eu digo: não tem que ser assim. Há muitas outras possbilidades, mais belas, mais felizes, mais construtivistas, mais amorosas, mais cidadãs.

Até quando vamos ter prefeitos e vereadores em São Paulo que defendem mais o preço alto dos terrenos do que o direito à vida e a moradia?

Por que ficamos 10 anos trabalhando para ter o Estatuto das Cidades, se agora ele é jogado às traças? Um imóvel abandonado deve virar moradia social... Tá lá, escrito, debatido, aprovado pelo Congresso brasileiro. É lei das boas, que protege as cidades, protege o povo. Por que não é aplicada?

Nadinha de aplicação do Estatuto das Cidades até agora. Se aplicado, São Paulo pode resolver grande parte do seu déficit habitacional apenas usando os imóveis fechados e abandonados há muitos anos. São mais de 500 mil imóveis abandonados no centro da cidade!!! Especulação imobiliária pura, desavergonhada. Por que o poder público não compra e aparelha esses imóveis para ter neles residências? Por que o povo não tem o direito de viver dignamente? De viver no centro, se é lá que tem mais trabalho, se é lá que tem melhor infraestrutura de transporte, educação, cultura saúde etc.? Por que é que o povo tem que morar na "casa do chapéu" se pode morar no centro?

Chamam isso que está aí de sociedade racional? Chamam isso de sociedade da informação e do conhecimento? Pois eu chamo isso de VILANIA...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Fahredin Shehu

Está nos seguindo o poeta e calígrafo Fahredin Shehu, de Kosovo.  Welcome!

Fahredin Shehu was born in Rahovec, South East of Kosova, in 1972. graduated at Prishtina University, Oriental Studies. M.A. in Literature. His work has been translated in English, Serbian, Croatian, Bosnian, Roma, Swedish, Turkish, Arabic and Romanian. Fahredin Shehu works in Administration of Radio Television of Kosova RTK and is ambassador of Poets to Albania by Poetas del Mundo, Santiago de Chile. He also actively works on Calligraphy discovering new mediums and techniques for this specific for of plastic art.


Published books:
•NUN- collection of mystical poems, 1996, author’s edition
•INVISIBLE PLURALITY- Poetical prose, 2000, author’s edition
•NEKTARINA- Novel, Transcendental Epic, 2004, publishing House, Rozafa Prishtinë- project of Ministry of Culture Sport and Youth of Kosova
•ELEMENTAL 99- Short poetical mystical stories, 2006, Center for positive thinking, Prishinë
•KUN- collection of transcendental lyrics, 2007, Publishing House LOGOS-A, Skopje, Macedonia

 
Eternal present
Fahredin Shehu
Unless you become beautiful
You have no right to approach Beauty

If the one longs only for flowers
I shall bloom at once the entire spring

Until you leave the future behind
There’s no mere chance you make thou art a living influence

If I long only for eternal unknown
I tell you again I break this goblet
Into fragments and resurrect as phoenix
Then from my new goblet you may drink
Unpolluted vine
With the lips of deadly curse

Then my Art is for real




Milhares de estudantes e desempregados italianos protestaram hoje nas ruas das cidades


"A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer." Gramsci


“Não pretendo nada,
nem flores, louvores, triunfos.
nada de nada.
Somente um protesto,
uma brecha no muro,
e fazer ecoar,
com voz surda que seja,
e sem outro valor,
o que se esconde no peito,
no fundo da alma
de milhões de sufocados."
Carlos Marighella - O país de uma nota só 



The silent evolution

403 life-size fugures and occupying an area of approximately 420 square meters, The Silent Evolution (A Evolução Silenciosa) besides its aesthetical component has in its purpose to permit the formation of an artificial reef in Cancun, Mexico. This installation is part of the underwater museum called MUSA (Museo Subacuático de Arte) a project founded by Jaime Gonzalez Cano of The National Marine Park, Roberto Diaz of The Cancun Nautical Association and Jason deCaires Taylor, located in the waters surrounding Cancun, Isla Mujeres and Punta Nizuc.

Em português, uma matéria, aqui.


Afirmação da vida

Cântico XIII
Cecília Meireles

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais
multiplica os teus braços para semearem tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Criar outros, para visões novas.
Destrói o braço que tiverem semeado,
para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo
sempre outro.
Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

Samba

"Quem acha vive se perdendo..."
Noel Rosa
Cadê você? Onde tô?


domingo, 12 de dezembro de 2010

radio deleuze: the use of philosophy

radio deleuze: the use of philosophy

Para o Jorge Bichuetti que "anda apaixonado por sambas" - II






Para o Jorge Bichuetti que "anda apaixonado por sambas"

Não deixe o samba morrer! 
 Eu tenho mil razões para perdoar (o samba atravessado)...


Pelo visto, mudanças na política monetária!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



Começou a mudança

Amir Khair[1]


O presidente Lula tem sido acusado de influir no processo de escolha das pessoas centrais que deverão compor a nova equipe de governo. É natural que ocorra sua influência, especialmente para o início de mandato, que se propõe a dar continuidade ao seu governo e no qual Dilma participou em função de destaque.

Uma dessas pessoas centrais da preferência de Lula, no entanto, foi recusada: Henrique de Campos Meirelles, o todo poderoso presidente do Banco Central (BC) durante os oito anos do governo Lula. A escolha de Guido Mantega e a recusa na continuidade de Meirelles parece ter sido o sinal dado para as novas mudanças a serem feitas na política econômica, especialmente na política monetária para a redução da Selic.

Dilma escolheu para o lugar de Meirelles, Alexandre Tombini, diretor de normas do BC, funcionário de carreira do governo, e não proveniente do mercado financeiro. A não vinculação com o mercado financeiro poderá contribuir para uma nova visão de política monetária, mais autônoma e que não aposte todas as suas fichas na inadequada Selic como instrumento de controle da demanda, como afirma o mercado financeiro.

Foi dada a Tombini pela futura presidente a garantia de autonomia do BC, mas as recentes decisões de restrições ao crédito para controlar a demanda foram tomadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é presidido pelo Ministro da Fazenda e composto pelo Ministro do Planejamento e o Presidente do BC. A operacionalização dessas decisões compete ao BC, mas a decisão foi do CMN.

Parece que a nova forma de fazer política monetária caminha para o modelo chinês, que prioriza o controle da liquidez ao invés da taxa básica de juros para obter resultado no controle inflacionário. Vamos aguardar.

Fato é que o mercado financeiro foi pego de surpresa. Estava pressionando novo aumento para a Selic, aproveitando a elevação da inflação devido à subida circunstancial do preço dos alimentos, combustíveis e commodities, o que contraria a política do governo de redução da Selic para cumprir três objetivos: a) reduzir as despesas com juros da dívida interna; b) reduzir o custo de carregamento das reservas internacionais e; c) contribuir para não agravar ainda mais a apreciação do real, especialmente agora que os Estados Unidos começarão a despejar US$ 600 bilhões no mercado e o Banco Central Europeu (BCE) irá emitir euros para reforçar a ajuda aos países da zona do euro em sérias dificuldades.

Além da Grécia e Irlanda, já socorridas, Portugal, Espanha e Itália estão na fila de espera. O BCE prometeu realizar compras massivas dos títulos soberanos. Algumas análises, segundo o jornal Valor Econômico do dia 2, imaginam que vem aí a política de afrouxamento monetário europeia, com o BCE sendo capaz de colocar à disposição do fundo de estabilização financeira até US$ 2,6 trilhões!

Apesar da inundação de liquidez internacional e os danos que causa ao Brasil, a maioria do mercado financeiro – Bradesco é exceção - ainda insiste na elevação da Selic na reunião do Copom em janeiro e que termine 2011 em 12,25%. Esse risco para janeiro existe, caso o IPCA continue em nível elevado devido a fatores temporários ou casuais e o BC ceda à pressão do mercado financeiro, abdicando de sua autonomia. Assim, parece de bom senso que o controle da inflação ou as decisões do Copom sejam tomadas desconsiderando as variações de preços sazonais e circunstanciais. É o que fazem boa parte dos bancos centrais. Caso necessário, o CMN, que define as metas de inflação, tem poder de alterar o indexador inflacionário para que não fique sujeito a bruscas oscilações como as que ocorreram e estão ocorrendo este ano.

A precipitação do mercado financeiro para elevar a Selic está baseada na subida de preços dos alimentos, commodities e combustíveis e no interesse de elevar seus lucros na compra de títulos do governo federal engordados pela maior Selic. A ameaça da inflação é o pretexto sempre usado para elevar a Selic. A resolução do CMN que passou a vigorar a partir do dia 6 e outras que poderão ocorrer vão contra a estratégia do mercado financeiro de pressionar o BC e parecem seguir a determinação da presidente de baixar a Selic.

Até esta decisão do CMN, o BC afirmava junto com o mercado financeiro, que a forma de reduzir o ímpeto da demanda é elevar a Selic. Essa política atravessou os mandados de FHC e Lula, foi a responsável pelo déficit fiscal e a valorização excessiva do real com desdobramentos sérios sobre a indústria na competição interna e externa com empresas do exterior. As empresas sediadas no País têm a desvantagem de sofrer o chamado custo Brasil, formado pelos gargalos e custos elevados de infraestrutura e logística, carga tributária e juros altos, além um sistema burocrático pesado.

Segundo estudos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), o processo de desindustrialização está em curso. O coeficiente de importação da indústria brasileira subiu de 16,9% no 2.º trimestre de 2009 para 22,7% no 3.º trimestre de 2010 e poderá ao final deste ano ficar próximo de 25%. Além disso, a indústria de transformação para sobreviver está substituindo matérias-primas e máquinas locais por importadas.

Esse quadro deve servir de alerta para não agravar ainda mais o problema com a elevação da Selic e para isso vale recordar que ela não cumpre mais a função de restringir a demanda, mesmo sendo a mais alta taxa de juros real do planeta. Exemplo disso ocorreu a partir de maio quando a Selic subiu 2,0 pontos percentuais (pp) de 8,75% para 10,75% e os juros ao consumidor, que pode reprimir a demanda, caiu 1,7 pp. Mas o que mais chama a atenção é a afirmativa do BC e do mercado financeiro que uma alteração na Selic leva nove (!) meses para fazer efeito sobre a inflação. Num mundo dinâmico, globalizado, com tantos fatores influindo sobre a inflação a cada dia, tomar uma decisão cujo efeito leva tanto tempo evidencia a inadequação deste desgastado instrumento para controlar a demanda.

Mas já ficou claro para algumas análises, que desde o Plano Real a política do BC para o controle inflacionário foi a de manter a Selic elevada para atrair dólares e com isso apreciar o real. Assim, barateia as importações e as amplia para atender a demanda. A mola mestra do controle inflacionário foi até agora a âncora cambial.

O real foi a moeda que mais se apreciou perante o dólar levando a conta externa passar de superavitária a deficitária. As críticas se avolumaram e começaram a surgir dúvidas quanto à exposição das contas externas do País, dependente cada vez mais de produtos primários. Com a queda contínua do dólar perante o real, o Ministério da Fazenda se viu obrigado a elevar sucessivamente o IOF sobre as aplicações de estrangeiros em títulos do governo. O objetivo foi anular a estratégia do BC de manter a Selic elevada para atrair o capital estrangeiro em títulos do governo e assim formar a âncora cambial.

Com a injeção de US$ 600 bilhões a ser feita pelo Banco Central americano perde o sentido manter a Selic elevada, o que aceleraria o processo de desindustrialização. Essa é a questão principal a ser enfrentada nos próximos anos. Assim, espero que a Selic inicie a partir de janeiro seu processo de queda e venham novas restrições para a entrada de dólares com maiores tributações e restrições no campo da regulação.

As decisões do CMN mostraram nova postura do governo para tentar controlar a demanda de forma imediata ao encarecer o crédito. Resta, no entanto, acompanhar com atenção se essas medidas irão atingir as causas principais da evolução recente da inflação puxada pelos alimentos, commodities, combustíveis e serviços. Tenho dúvidas, pois a retomada da inflação tem mais a ver com um choque de oferta de alimentos a nível mundial e elevação do preço das commodities devido à desvalorização internacional do dólar, do que pressão de demanda, que atua mais sobre os serviços. É importante, no entanto, verificar como o encarecimento do crédito atinge os preços dos serviços.

Caso na nova política econômica as decisões sobre o controle inflacionário forem tomadas de forma mais integrada e com vários instrumentos de controle, como fez agora o CMN, as chances de sucesso serão maiores. Ao que parece a nova política econômica com o fortalecimento do Ministro da Fazenda, a troca de comando BC e possivelmente de alguns membros no Copom, finalmente estarão dando o sinal de que começou a mudança na condução de uma economia mais sólida, eficaz no controle da inflação e atenta à evolução cambial decorrente da liquidez internacional em franca expansão.

[1] Mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor. Esse artigo foi publicado no Estadão, Caderno de Economia, hoje.



sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

IRENE

"Eu quero ir minha gente,
 eu não sou daqui,
eu não tenho nada, nada,
quero ver Irene rir,
quero ver Irene dar sua risada.
Irene ri, Irene ri, Irene ri."


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Devir revolucionário

"Diz-se que as revoluções têm um mau futuro. Mas não param de misturar duas coisas, o futuro das revoluções na história e o devir revolucionário das pessoas.(...).  A única oportunidade dos homens está no devir revolucionário, o único que pode conjurar a vergonha ou responder ao intolerável."
Deleuze - Controle e devir - Conversações - entrevista a Toni Negri - 1990

A Fissura VII - Bichuetti completa trilogia inspirada em Porcelana e Vulcão, de Deleuze

Rizoma Uzina - Utopia Ativa





DEPENDÊNCIA QUÍMICA :
AVENTURA VIAGEM OU SERVIDÃO
( III )

A FISSURA
 ( II )


Um espectro de morte ronda os lisérgicos vôos da fissura... A morte impessoal... Um acontecimento...

Na fronteira, os tempos se enovelam e se impera uma presentificação do futuro e do passado.

Só uma grande saúde livra e libera o indivíduo de efetuar uma inscrição, uma incorporação, uma tatuagem desta "porcelana esfacelada" no corpo, interiorizando uma feroz e incontrolável destrutividade.

O endurecimento absoluto do presente inibe a caminhada e o processo de vida.

Para limitar, impedir , inibir a inscrição deste acontecimento no corpo, é necessário uma contra-efetuação:" dar a chance da fissura sobrevoar seu campo de superfície incorporal sem se deter na quebradura de cada corpo", pois "a fissura é nada se não compromete o corpo" ( p. 164).

Deleuze determina sua análise, num movimento de esperança e afirmação das potência inventivas da vida:

-" Não podemos renunciar à esperança de que os efeitos da droga ou do álcool( suas "revelações") poderão ser revividos e recuperados por si mesmos na superfície do mundo, independentemente do uso das substâncias, se as técnicas de alienação social que os determinam são convertidas em meios de exploração revolucionários" ( p. 164-165)

- Metralhamento da superfície para transmutar o apunhalamento dos corpos, ò psicodelia" (p. 165)

Uma sobriedade psicodélica, surreal e insurgente

A sobriedade cinzenta, alienada, de repetições restritivas e normôticas vulnerabilizam o indivíduo que na fissura se vê desarmado e não contra-efetua uma desterritorialização criativa e inventiva, multicolorida e estelar, sem expor seu corpo, que é um corpo estriado com quebraduras ávidas dos miasmas da fissura...

Uma vida metamorfoseante, de singularidade e multiplicidade, de corpo alisado pelas experimentações que se realiza e gera linhas de fuga, torna-se um corpo apto à contra-efetuação, ou seja, um corpo onde as lavas do vulcão não o penetra, nem corre em suas veias a porcelana pulverizada da fissura...

A fissura não se inscrevendo, nem penetrando as entranhas do seu corpo, é estrela cadente, vagalume moribundo ou fogo fátuo...

Cuidar, assim, é liberar o homem das alienações que o distancia da diferença, da singularidade, da multiplicidade, das redes rizomáticas e dos devires... Liberado destas alienações ele toma posse do que pode uma vida que livre borboleteia nos horizontes mágicos do novo, da criatividade e das atualizações insurgentes de virtualidades transcósmicas.



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tributo Lewis Carroll I - Jabberwocky - nonsense poem

Esse post é dedicado ao meu filho, Maurício
























"o lugar privilegiado de Lewis Carroll provém do fato de que ele faz a primeira grande conta, a primeira grande encenação dos paradoxos do sentido, ora recolhendo-os, ora renovando-os, ora inventando-os, ora preparando-os."
Deleuze - Lógica do sentido


Jabberwocky

Lewis Carrol
‘Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.

“Beware the Jabberwock, my son!
The jaws that bite, the claws that catch!
Beware the Jubjub bird, and shun
The frumious Bandersnatch!”

He took his vorpal sword in hand:
Long time the manxome foe he sought—
So rested he by the Tumtum tree,
And stood awhile in thought.

And, as in uffish thought he stood,
The Jabberwock, with eyes of flame,
Came whiffling through the tulgey wood,
And burbled as it came!

One, two! One, two! And through and through
The vorpal blade went snicker-snack!
He left it dead, and with its head
He went galumphing back.

“And hast thou slain the Jabberwock?
Come to my arms, my beamish boy!
O frabjous day! Callooh! Callay!”
He chortled in his joy.

Twas brillig, and the slithy toves
Did gyre and gimble in the wabe:
All mimsy were the borogoves,
And the mome raths outgrabe.



Jaguardarte

tradução de Augusto de Campos

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.

“Foge do Jaguadarte, o que não morre!
Garra que agarra, bocarra que urra!
Foge da ave Felfel, meu filho, e corre
Do frumioso Babassurra!”

Êle arrancou sua espada vorpal
E foi atrás do inimigo do Homundo.
Na árvora Tamtam êle afinal
Parou, um dia, sonilundo.

E enquanto estava em sussustada sesta,
Chegou o Jaguadarte, ôlho de fogo,
Sorrelfiflando através da floresta,
E borbulia um riso louco!

Um, dois! Um, dois! Sua espada mavorta
Vai-vem, vem-vai, para trás, para diante!
Cabeça fere, corta, e, fera morta,
Ei-lo que volta galunfante.

“Pois então tu mataste o Jaguadarte!
Vem aos meus braços, homenino meu!
Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!”
Êle se ria jubileu.

Era briluz. As lesmolisas touvas
Roldavam e relviam nos gramilvos.
Estavam mimsicais as pintalouvas,
E os momirratos davam grilvos.




Carroll, Deleuze e a literatura de superfície

" Deleuze concede a Carroll o lugar privilegiado de ter feito a primeira mise em scène dos paradoxos do sentido na literatura, de ser o inventor da literatura de superfície, pois através do paradoxo se destitui a profundidade e as coisas se mostram na superfície. O humor é esta arte de superfície, contra a velha ironia, arte das profundidades e das alturas. Por isso Carroll, elegendo o paradoxo como sua arte básica, é o autor da superfície, como os estóicos foram os filósofos da superfície, também eles adeptos dos paradoxos. Ao contrário do senso comum que afirma um sentido único, o paradoxo afirma dois sentidos ao mesmo tempo. Daí que as inversões/reversões de Alice (na ordem do tempo, reversões de proposições, reversões de causa e efeito, etc.) surgem como um paradoxo da identidade infinita e conduzem à contestação da identidade pessoal de Alice, tema que atravessa suas aventuras. Segundo Deleuze, a descida de Alice nas profundidades do poço dá lugar a movimentos laterais de expansão, a profundidade se faz superfície, os animais dão lugar à figuras de carta, sem espessura. Não há aventuras de Alice, diz Deleuze, mas uma aventura: sua ascensão à superfície (por isso, crê o filósofo, duvidosamente, desistiu de do título inicial da obra Alice´s adventures under ground ). A obra de Carroll joga permanentemente com a dualidade dos sentidos, com a proliferação indefinida dos mesmos, com a criação de jogos sem regras definidas e contraditórias entre si, etc. O não sentido na filosofia do absurdo se opõe à ausência de sentido, produzindo um excesso de sentido. É o que Deleuze entende por non-sense identificando-o, portanto, ao paradoxo... "
Sebastião Uchoa Leite 





A Fissura VI - por Jorge Bichuetti

Rizoma de Blogs




DEPENDÊNCIA QUÍMICA: AVENTURA, VIAGEM OU SERVIDÃO
 ( II )
A FISSURA (A)


Madrugada, seresta, sereno... Estrela da manhã...
Silêncio nos ruídos;
ruídos no silêncio...
Uma taça de cristal na mesa, luz vermelha...
Um corpo nu na calçada, sedução...
A vida gira e girando move-se,
não vê, nem escuta o que se dá na escuridão...
Luzes vermelhas clareiam, mas só clareiam o beijo e a conjunção...
De repente, um canto... Canto de sereia? ...
Um diabo do redemoinho? uma encruzilhada...
A sobriedade de muitos hoje não, se corrompe,,,
Ea  a taça de cristal se quebra, caindo nua no chão...
A fissura se impôs, feito um vulcão...
***
Um homem vivendo sóbrio durante longos dias...
Um casal amando-se como se o amor fora um bem da eternidade...
Sem motivos, sem causalidade, uma fissura quebra a sobriedade e põe fim na ilusão de uma felicidade sem fim.
***
Como entender? Como cuidar?
" A fissura não é nem interior nem exterior, ela se acha na fronteira, insensível, incorporal, ideal." p 158
Se é da fronteira, pode-se inferir que é produtudo de uma desterritorialização maximizada...
Desterritorializada, mantêm relações complexas com o universo das interferências e dos cruzamentos; vivenvia junções saltitantes...onde o o direito ao risco e à liberdade são agenciadas pela idéia da da morte como acontecimento, uma morte impessoal...
***
Valendo-me de Foucault, para resgatar aqui a idéia de caixa-de ferramentas, recordo Pierre Weil que identificava no desejo de autodestruição, um desejo de morte do ego e de reinvenção da vida..
***
De fato. a fissura recria a gramática e a pessoa passa a se pensar num passado composto; que é um passado que incuindo o presente permite bifurcações...
***
A fissura é um vulcão...
Dela, não se pode sair retrocedendo-se... pois o cristal está fragmentado, a porcelana quebrada...
***
Que fazer?
Deleuze propõe uma contra-efetuação...
Se o canto da sereia seduziu...
Se o redemoinho do diabo nos capturou...
Se algo rompeu e se esfacelou... E se isssi ocorreu na superfície, e não nas profundidades que estamos acostumados a reprimir, Só há uma uma saída...
Ele a nomeou de psicodelismo....
Desterritorializamos tanto, que ou inventamos sem agentes deletérios e mortíferos uma nova vida, ou não sobrevivemos...
A loucura, a alegria, o prazer e a utopia sempre estão condicionados a agenciamentos químicos: e daí a fissura como morte...
Necessitamos de incorporá-los como modo de vida e horizonte de sonhos...
O cristal continuará quebrando-se, mas teremos asas para voar além dos próprios cacos.
O vulcão lançará sua chamas, mas já teremos construído uma vida para além dos ocos e abismos das toxinas vulcânicas...
Uma vez que a liberdade será um plano afirmativo construído na desterritoialização, mas gerando uma nova territorialidade solidária , terna, meiga e psicodélica.

Diferença

 
"Tirar a diferença de seu estado de maldição parece ser, assim, a tarefa da filosofia da diferença."
Gilles Deleuze
 

sábado, 4 de dezembro de 2010

Fissura V - poema




FISSURA


Era uma flor de cristal,
uma estrela cintilante,
um caminho, uma vida
com a dor dela distante...
O cristal despetalou-se...
Num jogo da fronteira,
onde ruídos e silêncios,
enovelaram-se na lida



da liberdade arteira...
Agora, esta fissura
é um oco, um abismo,
que só o vôo da ternura
pode num psicodelismo
reinventar o caminho,
reatar os fios e os elos,
da vida de passarinho...



Voa, então, liberdade;
andarilha se aninhe
e efetue sua viagem
com asas de passarinho...

Voa, voa, liberdade,
deslize pela fronteira,
devind-se vida plena
no canto do passarinho....