quinta-feira, 11 de março de 2010

O LIVRO ESTÁTICO DE KOZMA


Antes, porém, três dúvidas (ao menos) sobre as teorias cognitivas que orientam as pesquisas comentadas por Kozma. Será que o comportamento humano pode ser descrito por teoria ? O cérebro funciona mesmo como o computador ? A mente está mesmo no cérebro?

Aprendizado através da mídia

Resumo das 11 primeiras páginas do artigo: Kozma, Robert B. (1991) . Aprendendo com a mídia. Disponível em: http://robertkozma.com/images/kozma_rer.pdf. Consulta em 10.03.2010.

Objetivo

A intenção do artigo é demonstrar os efeitos cognitivos na aprendizagem das diferentes mídias (livro, televisão, computador e multimídia), particularmente efeitos na estrutura, formação e modificação de modelos mentais.

Definição da mídia
A mídia é definida pela sua tecnologia, seu sistema de símbolos e sua capacidade de processamento.
Tecnologia: as características físicas (mecânicas, eletrônicas e outras) servem para classificar a mídia (TV, radio , computador etc.). Os efeitos cognitivos dessas características são indiretos, sendo alguns + diretos (exemplo: tamanho e resolução das telas de computador). Maior número de implicações da mídia na aprendizagem resulta de seus sistemas de símbolos e suas capacidades de processamento

Sistema de símbolos : são “modos de aparência (Salomon) ou conjunto de elementos (palavras, imagens etc.) que são interligados em cada sistema de sintaxe e são determináveis em relação ao domínio de referência. Uma mídia pode ser descrita e distinguida das demais pela sua capacidade de empregar determinado sistema de símbolo. Determinados sistemas de símbolos podem representar melhor certas tarefas. As informações nos diferentes sistemas de símbolos podem ser representados de forma diferente na memória e exigir diferentes habilidades mentais para processá-las.
Capacidade de processamento: os recursos de processamento também distinguem as mídias mesmo quando elas acessam o mesmo sistema de símbolos (Exemplo: videodisco e transmissão (broadcasting) de vídeo). A capacidade de processamento de uma mídia pode complementar as capacidades do aluno. Os alunos podem incorporá-las (?) em seu repertório de processo cognitivo quando estão na “zona de desenvolvimento próximal” (Vygotsky) 1 .
Situação dos aprendizes
A diferença que uma mídia pode fazer na aprendizagem depende de como ela corresponde à situação dos aprendizes (tarefas e alunos envolvidos), pois as tarefas variam em situações e exigências e os alunos variam em capacidade de processamento. A interação contínua e recíproca entre a pessoas e a situação confirma a teoria Interação Atitude-Tratamento (Snow) 2.

Aprendendo com livros

É a mídia mais comum e sua característica distintiva é a estabilidade. Seu sistema de símbolos é constituído por textos e imagens.

Aprender com o texto envolve duas representações mentais interligadas: texto base e modelo de situação. No texto base, a representação mental deriva diretamente do texto. Aumenta a possibilidade de sobrevivência da memória de curta duração e a fixação da memória de longo prazo. Já no modelo de situação, a representação deriva da situação descrita pelo texto, formada pelas informações do texto e dados da memória de longa duração.

O processo de leitura interage com conhecimentos anteriores. Leitores ocasionais podem decodificar erroneamente a informação, assim leitores fluentes podem ter dificuldade quando a informação é muito longa ou encontra-se fora do seu domínio. Fluente ou ocasional, o leitor diminui o ritmo de leitura ao se deparar com informação decisiva para a compreensão do texto.

Diversos estudos constatam haver variadas formas para ajudar a compreensão dos textos em livros, aproveitando-se da estrutura estável dessa mídia (ler várias vezes o texto ou trecho, ler certas seções com mais cuidado, saltar para trás e para frente, fazer pausas, buscar apoio em outros livros etc.) .

Do ponto de vista do processo de aprendizagem, o uso de imagens referidas ao texto favorece especialmente os leitores ocasionais ou os que têm pouco domínio.

Os autores devem utilizar-se de recursos nos seus textos de modo a complementar habilidades e deficiências dos aprendizes como títulos, questões de revisão, definição de objetivos, elementos de coesão, sinais, imagens bem situadas ao longo do texto etc.

Notas
1 - Segundo Vygotsky , existe uma área de potencial de desenvolvimento cognitivo definida como a distãncia entre o nível atual de desenvolvimento da criança, determinado pela sua capacidade de resolver problemas individualmente, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de problemas sob a orientação de adultos ou em colaboração com pares mais capazes. Ou seja, para Vygotski o processo de desenvolvimento não coincide com o de aprendizagem. Pelo contrário, existe uma assintonia entre eles constituindo uma área de dissonância cognitiva que corresponde ao potencial do aprendiz. Ver: Vygotisky, L.S. Mind in society – the development of higher psychological processes.




2- Aptitude-Treatment Interaction (Interação Atitude-Tratamento – ATI é o conceito de que algumas estratégias de instrução (tratamentos) são mais ou menos efetivas para determinados indivíduos, de acordo com as suas habilidades específicas. Como uma estrutura teórica, a ATI sugere que o aprendizado ótimo é alcançado quando a instrução é exatamente condizente com as atitudes do aprendiz. Isto é consistente com as teorias de inteligência (como as de Gardner, Guilford, Sternberg), que sugere uma visão multidimensional da capacidade. Snow resume as principais conclusões de Cronbach & Snow (1977) sobre as pesquisas em AT: 1) interações de atitude-tratamento são muito comuns na educação; 2) muitas combinações ATI são complexas e difíceis de serem mostradas claramente, e nenhum efeito ATI é suficientemente compreendido para ser a base para a prática de instrução. Além disso, Snow identifica a falta de atenção para com os aspectos sociais do aprendizado como uma séria deficiência da pesquisa ATI. Ele afirma: "As diferenças no estilo de aprendizado podem estar ligadas a variáveis relativamente estáveis, como pessoa e atitude, porém estas diferenças também podem variar dentro dos indivíduos, como uma função das variáveis de trabalho e situação." Conf. Snow, R. (1989). Aptitude-Treatment Interaction as a framework for research on individual differences in learning. In P. Ackerman, R.J.

Ilustrações/pinturas de leituras: Picasso e Balthus. Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/album/index.htm