Os novos acadêmicos de Ouro Preto:
Carlos Versiani, José Efigênio Pinto Coleho, Guiomar de Grammont e Rui Mourão
Carlos Versiani- Esta é uma discussão que uma academia de letras não pode fugir. E quem dera mesmo que todo mundo fosse escritor, seja em livros, em blogs ou em guardanapos de boteco. Mas, não acho limitante o formato livro. Eu, pelo menos, não consigo ficar quinze minutos lendo em computador. O livro não é só uma tradição. É uma arte, uma preciosidade, um objeto de estimação. Que todos devem ter o direito e o prazer de ler e de publicar. E a Academia Ouropretana de Letras está aqui para incentivar isso.
M - O formato academia (de ciências, inicialmente) foi criado no século XVII e consolidado no século XIX. Qual o sentido de uma academia de letras no século XXI quando o mundo ficou, está cada vez mais, muito diferente de todo esse passado?
C - O nome academia realmente pode estar associado a algo conservador, elitizado, antigo, levando realmente a alguma resistência ou mesmo preconceitos. Mas a tradição em si não é negativa. Senão nem teria sentido a valorização de todo o patrimônio histórico e cultural de Ouro Preto. A tradição negativa é a tradição morta. E não é isto que se pretende para a nova Academia Ouropretana de Letras. Pretendemos fazê-la atuante, em interlocução com toda a sociedade, com todas as áreas da arte e da cultura, abri-la ao campo da pesquisa, publicar e incentivar a publicação de obras, promover eventos e concursos. E se modernidade é a palavra, teremos também um site, moderno e atualizado.
M - Quando se fala em academia de letras, vem à cabeça: fardões e chá. A Academia Ouro Pretana de Letras vai instituir essas práticas?
C - Não. Alguém brincou que se fôssemos usar os fardões, só se fossem os do Zé Pereira dos Lacaios. A diretoria se reunirá sempre e a assembléia, no mínimo, duas vezes ao ano. Os acadêmicos, conforme o estatuto, se reunirão ao menos uma vez a cada dois meses. Se quiserem tomar chá, ou vinho, ou refrigerante, não importa. Contanto que as reuniões sejam agradáveis e produtivas.
M – O estatuto da Academia Ouropretana de Letras define 40 cadeiras. Quais são elas e quem são os atuais ocupantes eleitos na assembléia de fundação?
C - Para as 40 cadeiras não temos pressa, pois afinal, a Academia se faz com todos os sócios, sejam fundadores, acadêmicos ou os chamados correspondentes. Já tomaram posse os primeiros acadêmicos, eleitos para as primeiras quatro cadeiras. Para a cadeira 1, tendo como patrono João Guimarães Rosa, foi empossada Rui Mourão; para a cadeira 2, tendo como patrono Eponina Ruas, foi empossada Terezinha Lobo Leite; para a cadeira 3, tendo como patrono Cláudio Manoel da Costa, foi empossado José Efigênio Pinto Coelho e para a cadeira 4, tendo como patrona Beatriz Brandão, foi empossada Guiomar de Grammont.
M – E para a diretoria, quem foram os escolhidos?
C - Foram eleitos Carlos Versiani (presidente); Jusberto Vaz Cardoso (vice-presidente), Mercês Paiva (primeira secretária), Carlos Lisboa (tesoureiro), Ângela Xavier (diretora de relações públicas), Haroldo Paiva (provisoriamente bibliotecário), Flávio Andrade (membro da comissão de legislação e crítica - espécie de conselho fiscal). Para esse conselho, foi indicada também Elinor Oliveira, que não pode ficar até o final da assembléia, que também indicou Elizabeth Marinho (segunda secretária) e Valentina Menezes Gonçalves (segunda secretária ou bibliotecária). Ou seja, praticamente todas os cargos da diretoria foram preenchidos, faltando confirmar alguns.
M – Então, a assembléia de fundação foi um sucesso...
C – Sim. Foi produtiva e concorrida. Teve um público além do esperado. Assinaram a ata de fundação 49 pessoas e pode ser que alguns tenham saído antes da assinatura.
M - E agora, quais os próximos passos?
C - Agora é trabalhar, primeiro na redação final do estatuto, com as modificações aprovadas em assembléia e confirmar a definição de todos os nomes da diretoria, além de proceder o registro da entidade. Nos primeiros meses de 2010, iniciaremos a busca por uma sede, e trabalharemos no acervo documental e bibliográfico da Academia, começando pela documentação, ainda esparsa, da antiga academia, que existiu em Ouro Preto nos anos 50. No início de 2010, a diretoria se reunirá para definir a pauta de trabalho para todo o ano.
Carlos Versiani dos Anjos é natural de Ouro Preto. Graduado e mestre em História, é professor de cultura brasileira e teatro, além de escritor, ator, autor e diretor teatral.