segunda-feira, 25 de outubro de 2010

As palavras de Foucault e o butô

Kazuo Ono
Este mundo tá cheio de palavras de ordem. Impressionante! Só saindo do burburinho... Esvaziar o pensamento.
Zero. Zerô. Platô. Butô.  Foucault! 


"Mas, o que há , enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente ? Onde, afinal está o perigo?

Michel Foucault
A ordem do discurso




Foi assim que me apaixonei pelo butô. A dança das sombras. Cerejeiras em flor.
   B u t ô Palavra do c o r p o





Hilda Hilst

Dez chamamentos ao amigo 
Hilda Hilst

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei.
E há tanto tempo
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu.
Pastor e nauta
Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento.



A arte de passear

Meu passeio matinal hoje foi numa região em que costumo ir seja para flanar,  seja para resolver questões de banco, compras etc Costumeiramente, faço os dois : flano e resolvo questões.   É uma delícia passear assim.


Depois de uma fila de banco, fui  a uma livraria, pedi um um café e espiei  livros. Uma loucura uma livraria: o que há de energia humana numa livraria não é para qualquer um, não é para qualquer pele. Para mim é muita emoção ficar numa livraria durante uma hora espiando poetas, filósófos, santos, artistas e tudo que é tipo de obra-pensamento, vontade de potência. E tem toda a emoção de escolher o livro que se vai comprar. E falar com o vendedor, com o caixa, com a moça do café, eventualmente outro cliente. Os olhares, as pessoas, as pessoas sendo numa livraria.


Hoje comprei três livros no meu trabalhando-vagabundeando. Gastei menos de R$ 50 para trazer para a minha toca nada mais nada menos que um livro fantástico,  Heráclito; um outro mais fantástico ainda ,   A arte de passear, e o terceiro  Sacher-Masoch, do Deleuze. Putz ! É grande demais para mim. 


Tive que tomar uma cerveja para acalmar o coração. Aí passei no buteco da Lurdes, minha amiga, para quem eu sempre recomendo " Lurdes, bota o nome nisso aqui de Buteco das Mulheres, pois é o único buteco  que conheço em que uma mulher pode beber sem se sentir mulher. Esquece-se que é mulher. Esquece-se até que se é... Esquecer de que se é, só ir sendo, é bom demais. Tomei uma Serra Malte. Tudo pianinho outra vez.

Uma hora o passeio tem que acabar. Mas não acaba na verdade, vira outro tipo de passeio. Agora, por exemplo, vou passear na história do Brasil, pois devo escrever um artigo sobre a Revolução de 1930 e a industrialização de São Paulo. É um passeio sim, mas esse não é grande demais para mim.

Grande demais para mim vai ser passeio  mais tarde quando eu for ler o Sacher-Masoch. Pauleira esse passeio. Imagino que sim. Muito gostoso o texto do Deleuze, fácil de entender (diferentemente de outros livros dele) , mas o tema é foda: frieza e crueldade, masoquismo, sadismo.   Credo!!! Mas ler Deleuze é fundamental. Cura! Impressionante como Deleuze é feiticeiro, bruxo, curandeiro.  Uma página dele vale por 150 sessões de psicoterapia de qualquer tipo. Aqui em casa, meu filho brinca comigo "seu Deusleuze". Sim Deusleuze! Mesmo sabendo que a gente não deve sacralizar nada nessa vida... Nadinha mesmo, menos o Deusleuze e os bruxos que o habitam, muito para além do homem, para além da vida. 

Bom, depois do Deleuze vou passear outra vez. Voar.  Voar também uma arte.


Vai aí a dica de um link, muito bom, mais um blog amigo no Ciberespaço, máquina de guerra: Radio Deleuze.

Os andarilhos

Fazer vazar, limar o muro, escorrer entre fluxos e cortes, desterritorializar, desertificar o pensamento, devir intenso, acontecimento, nomadismo, acelerar o pensamento, dar velocidade infinita aos conceitos e ao pensamento, sair da casa do ser, ser nômade, errante, transgressor, maldito, estar em bando, máquina de guerra.



Este vídeo (Le voyageur , O andarilho)  é uma preciosidade. Deleuze narrando um texto inspirado em Nietzsche, ao som de Heldon.  Dedico esse post a uma amiga andarilha, Maud Lageiste, uma parisiense universal. Dedicando a ela, dedico a todos que atingiram ao menos um pouco a razão que nos faz compreender que nada somos na Terra além de andarilhos, em busca de mais vida.  

"é preciso fazer como faz um andarilho que quer saber a altura das torres de uma cidade: para isso ele deixa a cidade." - Nietzsche 



O andarilho
Friedrich Nietzsche

" Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a terra – e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Mas ele observará e terá olhos abertos para tudo quanto realmente sucede no mundo; por isso não pode atrelar o coração com muita firmeza a nada em particular; nele deve existir algo de errante, que tenha alegria na mudança e na passagem. Sem dúvida esse homem conhecerá noites ruins, em que estará cansado e encontrará fechado o portão da cidade que lhe deveria oferecer repouso; além disso, talvez o deserto, como no Oriente, chegue até o portão, animais de rapina uivem ao longe e também perto, um vento forte se levante, bandidos lhe roubem os animais de carga. Sentirá então cair a noite terrível, como um segundo deserto sobre o deserto, e o seu coração se cansará de andar. Quando surgir então para ele o sol matinal, ardente como uma divindade da ira, quando para ele se abrir a cidade, verá talvez, nos rostos que nela vivem, ainda mais deserto, sujeira, ilusão, insegurança do que no outro lado do portão – e o dia será quase pior do que a noite. Isso bem pode acontecer ao andarilho; mas depois virão, como recompensa, as venturosas manhãs de outras paragens e outros dias, quando já no alvorecer verá, na neblina dos montes, os bandos de musas passarem dançando ao seu lado, quando mais tarde, no equilíbrio de sua alma matutina, em quieto passeio entre as árvores, das copas e das folhagens lhe cairão somente coisas boas e claras, presentes daqueles espíritos livres que estão em casa na montanha, na floresta, na solidão, e que, como ele, em sua maneira ora feliz ora meditativa, são andarilhos e filósofos. Nascidos dos mistérios da alvorada, eles ponderam como é possível que o dia, entre o décimo e o décimo segundo toque do sino, tenha um semblante assim puro, assim tão luminoso, tão sereno-transfigurado: - eles buscam a filosofia da manhã. "


Devir além-homem além-mulher

Signos para viver, aprender a viver, o eterno retorno do aprender. Me sinto radiante, cintilante, povoada de signos além- homem, além-mulher. Fui tomada ao acordar por CARAVAGGIO. Não posso nada com os signos, não os possuo, eles me possuem.   



Futuro









"Ao longe, ao longe, olhos meus! Quantos mares ao meu redor, quanto futuro humano na aurora! E por cima de mim... que silêncio risonho. Que silêncio sem nuvens." 
Friedrich Nietzsche - Assim falou Zaratustra - trechinho de O sacrifício do mel