domingo, 24 de outubro de 2010

Guattari no Utopia Ativa

Maria Rita Khel e Antonio Lancetti entrevistam Félix Guattari
"É isso, é a própria noção de progressismo que é preciso colocar em questão, este mito da dialética hegeliana, da dialética marxista, de pensar que quanto mais a história avança, mais as máquinas técnicas e científicas se desenvolvem, e que teremos um horizonte resplandecente diante de nós. Nós temos também um horizonte de fascismo planetário, um horizonte de explosão demográfica, de degradação total do planeta no plano ecológico, e esta é também a "finalidade da história". Tudo é possível neste plano, e daí o caráter completamente angustiante, dramático, da situação, mas também o seu caráter exaltante, porque as práticas sociais, a criatividade, a inventividade. em quaisquer domínios, colocam ao nosso alcance o futuro da humanidade, e também da biosfera, a sobrevivência do planeta etc.".
Félix Guattari

A entrevista realizada no Brasil em 1990 (mas muito atual a abordagem)  está publicada na íntegra no Utopia Ativa

Gandaia spinoziana

Sim, spinoziana. O que é que tem? A razão é rica e minha cabeça gosta. Mas saiba, a qualquer hora posso cair de boca na mais absurda gandaia. Sem nenhuma razão e com todo o desejo da boca. Boca, dedos, joelhos, pés, nariz, cotovelo... Corpo inteiro. Vem comigo, vem? Aprendi com Spinoza, além da razão, a intuição: vamos à gandaia explorar tesouros. 

Oceanos

Andei em busca de oceanos para te enterrar.
No Pacifício não quis porque é muito griz.
No Atlântico exitei o verde querer-te verde.
No Mar Vermelho te afundei e reinventei o azul.

Almoço de domingo

Bebi um marquês e tracei um japonês.

Santa Adélia Prado

Objeto de amor
Adélia Prado

De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.


Frida


Hoje acordei com o gosto do rosto da Frida Khalo.

Brasa




Beijai-me agora, e muito, e outra vez mais,
Dai-me um de vossos beijos saborosos,
E depois, dai-me um desses amororos,
E eu pagarei com brasa o que me dais.


Louise Labé

O chamado de Rilke


"O amor antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa. Que sentido teria com efeito, a união com algo não esclarecido, inacabado, dependente? O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para o longe. "
Rainer Maria Rilke

Gramaticamente

Está carente?
Está doente?
Sem adjetivos, minha gente,
Só adverbios.
Vive somente,
Perigosamente,
Intensamente.
 Só sente.


Sonhar

Si vous êtes pris dans le rêve de l’autre,’ Gilles Deleuze wrote, ‘vous êtes foutu´.

Sonhar é surrealismo.
Dormir é dar
da
da
dada
Dormir é dadaismo.


É hora de ninar, Eurídice, hora de sonhar, sonhar com Orfeo

Avec le mot, le maître

Gilles Deleuze - Aula em Vincennes

O ROSTO


"Quando Deleuze fabrica o conceito de Rosto quer se referir também ao que ele denomina de processo de subjetivação. Trata-se de um gigantesco projeto que constrói signos, códigos, territórios e que depois se encarrega de transferi-los e gravá-los nos homens, de modo que aos poucos cada homem vai ganhando um Rosto. Logo de início, é importante dizer que a produção social do Rosto não significa individualizar cada rosto concreto em particular, ou seja, produzir o Rosto concreto de João, Maria, José, etc. Ao contrário, segundo Deleuze os rostos concretos individuados se produzem e se transformam numa grande unidade comum, construído através das codificações que a cultura produz, até desembocar no grande Rosto. Assim, ao invés de construirmos um rosto próprio somos metidos e gravados em um Rosto produzido culturalmente: “Introduzimo-nos em um rosto mais do que possuímos um” (DELEUZE). Em outras palavras, isso significa que se não formos capazes de construirmos um projeto ou modo de existência próprio, a cultura sempre se encarregará de nos vender uma forma pronta e, ao comprarmos, pagamos caro por isso. "  Jorge Luiz Viesenteiner - Resistência e reinvenção: o estatuto da ética em Deleuze.



Madrigal

Passa da meia noite
Dualidão com Deleuze
Eu lendo ele me dobrando

Meio dia em ponto - poema para o professor morto

Tá lá o corpo
Tá lá o corpo estendido
Tá lá o corpo estendido no chão

Era meio dia
Meio dia em ponto
Terminou a aula
Deu a lição
Tantas bocas
Nenhuma mão a acolher o corpo

Pulou
do 12º andar o corpo
Será um pássaro?
Será um avião?
Apenas o corpo

Dobrado
Desdobrado
Redobrado 
No vão

Tá lá o corpo
Estendido o corpo
Muitas mãos a colher o corpo
No chão

Não é mais meio dia
A vida passa
A hora é breve
Fossem cinco para meio dia
Minha mão na sua mão
Corpo com corpo