domingo, 23 de maio de 2010

De um grande escritor para um grande filósofo




















Espinosa
                                                               Machado de Assis

Gosto de ver-te, grave e solitário,
Sob o fumo de esquálida candeia,
Nas mãos a ferramenta de operário,
E na cabeça a coruscante idéia.

E enquanto o pensamento delineia
Uma filosofia, o pão diário
A tua mão a labutar granjeia
E achas na independência o teu salário.

Soem cá fora agitações e lutas,
Sibile o bafo aspérrimo do inverno,
Tu trabalhas, tu pensas, e executas

Sóbrio, tranqüilo, desvelado e terno,
A lei comum, e morres, e transmutas
O suado labor no prêmio eterno.

Elite brasileira : entreguista e sem ideal nobre

“A elite brasileira é entreguista”. Raimundo Faoro
Concordo totalmente. As elites entregam as riquezas do Brasil pelo preço de banana, banana estragada. Exagero? Até hoje não estão nada claras as vantagens/desvantagens da venda do sistema Telebras, da Vale do Rio Doce e de outras empresas que foram privatizadas e internacionalizadas na década de 1990.

"A elite brasileira aceita com impávida resignação o papel reservado ao País há quase um século, de súdito do Império. Antes, foi de outros. Súdito por séculos, embora graúdo por causa de suas dimensões e infindas potencialidades, destacado dentro do quintal latino-americano. Mas subordinado, sempre e sempre, às vontades do mais forte."  Leia mais essa brilhante reflexão de Mino Carta  sobre nossas tristes elites: Mino Carta - "Os interesses do Império e os nossos" - Carta Capital

Sim, elites tristes. Tristes para nós, povo comum, povo que vive do trabalho.  Para elas mesmas,  deve ser bastante alegre: muita gastança, muita festa, muito luxo, muita disponibilidade de gente para lhes servir. E no final da festa, pagam salários os mínimos possíveis aos que trabalham.  Resistem bravamente nossas elites a a se ter no Brasil uma cultura do salário, uma cultura de real democracia que significa repartição melhor da riqueza.  São ainda bastante escravocratas as nossas elites econômicas. Pensam como senhores, agem como senhores, fazem política como senhores. Senhores latifundiários, donos de terras e escravos. Nossos elites ainda se comportam como nos tempos da economia cafeeira. Modernizam o país no que lhes interessa, mas resistem o quanto podem a promover avanços sociais e valorização do trabalho.  Nesse processo, não titubeiam, se necessário for, vender o país em troca de manutenção dos seus luxos. Vendem as riquezas naturais do país, vendem o mercado brasileiro, vendem o sangue do povo trabalhador. Me parece, aliás, que as elites brasileiras têm sido modelo para algumas elites globais no que diz respeito à ampliação do controle da riqueza em situação de aperto social. É o que alguns cientistas sociais chamam de "brazilianização do mundo".

Por mais que disfarcem, a gente sabe muito bem o quanto é insuportável para as elites ter um presidente como o Lula. Apesar de muitas falhas em seu governo e dos amplos benefícios que as elites mantiveram e até ampliaram (como as exorbitantes taxas de lucro no sistema financeiro), não há dúvida que Lula busca traçar caminhos entre as pedras (com políticas sociais e políticas de desenvolvimento para o país). Mas o povo tem lá sua sabedoria e nenhuma preguiça em experimentar ideais mais nobres que faltam às elites. Essa é a boa condição da democracia: apesar da mídia, o povão manifesta-se nas urnas com bastante independência e altivez. Estão aí os resultados das pesquisas eleitorais. A grande mídia tenta pintar a Dilma de diabo ("estatizante", "autoritária", "inexperiente" etc), mas a maioria vai nela porque sabe que esse caminho é mais desenvolvimentista, é mais equilibrado socialmente.

Dão o que pensar essas elites. A começar: qual a graça de ser rico, milionário, poderoso, sem portar nenhum ideal nobre?

O Brasil não é só litoral. O Brasil é dentro e fundo.


Zé Maria Machado, um artista, um homem lindo, destemido, meu amigo de sempre, na presença, na ausência. Zé, te amo.



Ao Zé Maria e aos amigos do Bar da Ora, em Catas Altas do Mato Dentro (MG), terra de poucos matos, mas de muitos dentro: nunca é demais ouvir, cantar, bailar o Hino dos Guerreiros pela Vida, TENTE OUTRA VEZ, na voz do guerreiro Raul Seixas, leitor de Nietzsche.