segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Palavra de ordem

Nada é mais chato nessa vida que palavra de ordem.
Nada é mais divertido nessa vida que desobedecer palavra de ordem.

Ordem só gosto da minha. Mais que precária.
Vou  agora botar ordem na louça.
No canto da pia, um marquês ofereçe
Ajuda.
Rubro, tinto, seco.
Fosse ele de carne e osso,
eu não poria ordem nas louças,
e as palavras seriam outras.

Sem a ordem da linguagem,
o amor acontece na desordem das línguas,  
Aveludadas, embriagadas, doces.

Mulheres e Homens

Há uma certa facilidade na boca e na pena dos homens de relacionar mulher aos adjetivos frágil, submissa e inexpressiva. 

Quantas vezes cada homem não experimentou a condição de frágil, submisso e inexpressivo?

Quantas vezes cada homem se apoiou numa mulher para não se sentir frágil,  submisso e inexpressivo?

Mas, há uma nova conversa entre mulheres e homens. Pensamento sem imagem.

Há uma nova Hera na relação mulher-homem, homem-mulher. 

Por homens e mulheres com cabeças coladas aos corpos, cabeças pesquisadoras.


" Ariadne esqueceu Teseu, que já não é nem sequer uma má recordação. Teseu jamais retornará. O labirinto já não é o caminho no qual nos perdemos, porém o caminho que retorna. O labirinto já não é o do conhecimento e da moral, e sim o da vida e do Ser como vivente."  Deleuze

"Não sou matrona, mãe dos Gracos, Cornélia,
sou é mulher do povo, mãe de filhos, Adélia.
Faço comida e como.
Aos domingos bato o osso no prato pra chamar o cachorro
e atiro os restos.
Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta.
As sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa.
Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama."
Adélia Prado

O além-do-homem é o vivente das cavernas e dos cumes, a única criança que se concebe pela orelha, o filho de Ariadne e do Touro.