segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Homens desérticos e labirínticos...

"Há um flor no escuro de uma caverna...
Há um roseiral nas curvas e becos de um labirinto..."
Jorge Bichuetti


"Para o homem medido e comedido, o quarto, o deserto e o mundo são lugares estritamente determinados. Para o homem desértico e labiríntico, destinado ao erro de uma marcha necessariamente mais longa do que sua vida, o mesmo espaço será verdadeiramente infinito, mesmo se ele sabe que ele mesmo não o é, e tanto mais quanto mais ele o souber.” Monegal. Borges: uma poética de leitura



“pensar não é sair da caverna nem substituir a incerteza das sombras pelos contornos nítidos das próprias coisas (…). É entrar no Labirinto, mais exatamente fazer ser e a aparecer um Labirinto ao passo que se poderia ter ficado ‘estendido entre as flores, voltado para o céu’. É perder-se em galerias que só existem porque as cavamos incansavelmente, girar no fundo de um beco cujo acesso se fechou atrás de nossos passos até que essa rotação, inexplicavelmente, abra na parede, fendas por onde se pode passar”. Cornelius Castoríades. As encruzilhadas do labirinto

“ um corpo flexível ou elástico ainda tem partes coerentes que formam uma dobra, de modo que não se separam em partes de partes, mas sim se dividem até o infinito em dobras cada vez menores, que conservam sempre uma coesão. Assim, o labirinto do contínuo não é uma linha que dissociaria em pontos independentes, como a areia fluida em grãos, mas sim é como um tecido ou uma folha de papel que se divide em dobras até o infinito ou se decompõe em movimentos curvos, cada um dos quais está determinado pelo entorno consistente ou conspirante. Sempre existe uma dobra na dobra, como também uma caverna na caverna. A unidade da matéria, o menor elemento do labirinto é a dobra, não o ponto, que nunca é uma parte, e sim uma simples extremidade da linha” - Deleuze - A dobra: Leibniz e o barroco

Um comentário:

  1. Marta, penso que somos homens da encruzilhada.
    Podemos seguir retos, lineares e inflexíveis... Ou aventurarmos nas dobras que nascem e se procriam quando exploramos as linhas de ação da diferença e os encontros que elas nos permitem e possibilitam...
    O que viramos?
    Um anjo barroco no altar de um bordel...
    Uma borboleta azul no jardim de um sonho...
    Um rei sem trono nos encantos de um delírio...
    Uma estrela bailarina no quilombo de uma singela e banal poesia...
    Vida, vida - rizoma e devires...
    Pão e vinho de uma profana liturgia...
    Há um flor no escuro de uma caverna...
    Há um roseiral nas curvas e becos de um labirinto...
    ... E há um terno cinza, um relógio e uma algema no sossego de um quarto claro e solitário, de um escritório frenêtico e monótono...
    Vaguemos, andarilhos.. errantes sonhadores...
    Estradeiros do devir, entre o vermelho da luta e o arco-íris das utopias...
    Abraços, Jorge e Lua e muitos luares...

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