domingo, 14 de novembro de 2010

Poemas nem alegres nem tristes que curam - II


Este amor
Jacques Prévert
Tão violento
Tão frágil
Tão terno
Tão desesperado
Este amor
Belo como o dia
E mau como o tempo
Quando há mau tempo
Este amor tão sincero
Este amor tão calmo e sereno
Tão feliz
Tão jovial
E tão pobre
Trêmulo como uma fagulha na escuridão
E tão seguro de si mesmo
Como um homem tranqüilo no mais fundo da noite
Este amor que assusta os demais
Que os faz falar
Que os faz empalidecer
Este amor vigiado
Porque nós o vigiamos
Acossado ferido pisoteado destroçado negado olvidado
Porque nós o acossamos ferimos pisoteamos destroçamos negamos olvidamos
Este amor íntegro
Tão vivo até agora
E pleno de sol
É o teu
É o meu
Esse que foi
Este algo sempre novo
E que não mudou
Tão verdadeiro como uma planta
Tão trêmulo como um pássaro
Tão cálido tão vivo como o verão
Ambos podemos juntos
Nos distanciar e retornar
Esquecê-lo
E depois dormirmos
Despertarmos padecer envelhecer
Dormirmos de novo
Sonhar com a morte
Despertarmos sorrir e rir
E rejuvenescer
Nosso amor segue ali
Obstinado como uma mula
Vivente como o desejo
Cruel como a memória
Absurdo como o arrependimento
Terno como as recordações
Frio como o mármore
Belo como o dia
Frágil como um menino
Nosso amor nos olha sorrindo
E nos fala sem dizer nada
E eu o escuto trêmulo
E grito
Grito por ti
Grito por mim
E te suplico
Por ti por mim por todos os que se amam
E os que se amaram
Sim lhe grito
Por ti por mim e por todos
Os que não conheço
Fica
Não te mexa
Não vá
Nós os que somos amados
Te esquecemos
Mas não nos esqueça tu
Só tínhamos a ti no mundo
Não permitas que nos tornemos indiferentes
Cada vez mais longe
E desde onde sejas
Dai-nos sinais de vida
Muito mais tarde desde o recanto de um bosque
Na selva da memória
Surge de repente
Estenda-nos a mão
E salva-nos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário