sábado, 5 de junho de 2010

LORCA QUE TE QUERO LORCA

EL POETA PIDE A SU AMOR QUE LE ESCRIBA

Amor de mis entrañas, viva muerte,
en vano espero tu palabra escrita
y pienso, con la flor que se marchita,
que si vivo sin mí quiero perderte.

El aire es inmortal. La piedra inerte
ni conoce la sombra ni la evita.
Corazón interior no necesita
la miel helada que la luna vierte.

Pero yo te sufrí. Rasgué mis venas,
tigre y paloma, sobre tu cintura
en duelo de mordiscos y azucenas.

Llena pues de palabras mi locura
o déjame vivir en mi serena
noche del alma para siempre oscura.

Federico Garcia Lorca



Lorca ao piano acompanhando sua grande amiga Argentinita
Há 12 anos atrás fui passear na Espanha. E eis que cheguei em Madri em pleno verão, mas fazia um frio daqueles (efeito do El Nino) e eu não havia levado roupas de inverno e não havia roupas de inverno para se comprar nas lojas da cidade. Nas vitrines e prateleiras, só biquines, shorts, mini-saias, vestidinhos frugais... A sorte é que meu esposo estava no Brasil e iria embarcar em uma semana para me encontrar e me prometeu levar casacos, meias, cachecóis etc. O que fazer até ele chegar?  Ler. Ler no calor do quarto do hotel!  Ler em espanhol para aprender um pouco a língua pois iríamos viajar por um mês pelo país. Não sabíamos por onde... Nomadismo. Ciganismo.

"...yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa."

Numa suntuosa livraria ao lado do hotel, comprei vários livros: Borges, Bioy Casares, Ortega y Gasset, Federico Garcia Lorca. Comecei pelo Lorca mesmo porque a Espanha comemorava 100 anos do seu nascimento. Então, havia várias reedições da obra dele, livros baratos, de bolso. Eu achava Lorca um poeta difícil, mas decidi encarar e fui encarando, e gostando, e gostando, e gostando. Adorei a poesia de Lorca. E comprei mais livros de Lorca e também um guia turístico de Granada, a cidade de Lorca. Decidi que queria conhecer Granada e a Andaluzia. Durante toda a viagem por Castela, Andaluzia e Barcelona, só dava Lorca na minha cabeça. Andava de braços dados com o Lorca por todos os lugares. E de lá para cá tem sido assim.  Venho conhecendo a sua obra e a história da sua vida. Uma super obra, um além-homem.


Granada - Alhambra - Serra Nevada
Hoje Lorca faria 112 anos. Para mim, ele faz 112 anos. Todos os anos, desde 1999, lembro-me do aniversário de vida (05 de junho) e de morte (na madrugada de 18 para 19 de agosto) do Lorca.  E sempre comemoro de algum jeito seu nascimento. E sempre choro a sua morte.  E isso não se passa só comigo. Há uma verdadeira legião mundial de amigos de Lorca, estudiosos de Lorca, amantes de Lorca. Então, ele está mais vivo do que muitos vivos. Vivo nos corações, vivo no pensamento, vivo no teatro, vivo na poesia, vivo na música. Lorca é mais que um mito, é um sentido.

Monumento a Lorca - Praça das Guianas - São Paulo - SP
Escultura de Flávio de Carvalho
Durante o dia de hoje, vou postar meus sentimentos, minhas homenagens a esse querido amigo da humanidade, que empurra homens e mulheres para o além da humanidade, para a vida intensa, inventiva, alegre, potente. Há quem pense que Lorca foi uma pessoa triste. Sua obra é trágica, sua morte foi trágica. Mas sua vida foi alegre. Lorca dançava, cantava, se irmanava com as mais diferentes pessoas, intelectuais, gente comum, ciganos, negros, marginais, gente famosa, gente sem fama alguma.  Lorca era pura alegria.
Lorca com Margarita Xirgu,
uma das mais importantes intérpretes da obra teatral de Lorca

Foi com alegria que viveu suas tristezas. A tristeza de não ser amado por quem se ama, talvez a maior tristeza da vida.

"¡Oh Salvador Dali, de voz aceitunada!"

Dali que preferiu Elena Ivanovna Diakonova, a famosa Gala. Uma tristeza que em Lorca não foi deprimida. Foi uma tristeza alegre porque aumentava a sua vontade de vida, de novos amores, de novas imaginações.  E eu suspeito que a fase da sua vida mais alegre foi nas Américas. Em 1929 foi para Nova York tentando esquecer esse amor e estudar. Não estudou, mas acho que curou ali sua paixão por Dali, além de ter escrito Poeta em Nova York, obra da literatura universal.  De Nova York foi para Cuba e depois, Argentina. Época, aliás, que seu sucesso explodiu. Sucesso total no teatro. Ganhou muito dinheiro com a montagem de uma peça sua em Buenos Aires (à época, um dos mais importantes centros culturais e teatrais do mundo ocidental). Dinheiro que ele compartilhou com amigos e com estranhos.

Lorca e Dali

Lorca foi um homem muito generoso. Uma noite em Buenos Aires recebeu uma mensagem do seu inconsciente de que precisava ajudar uma pessoa desesperada. Lorca era intuitivo, extremamente intuitivo. Saiu em busca dessa pessoa. Andou pelas ruas de Buenos Aires, entrou em bares, observou as pessoas atentamente. Assim, encontrou um patrício ( um granadino que havia migrado para a Argentina)desesperado, precisando muito de dinheiro e de esperança. Lorca lhe deu muito dinheiro e palavras amigas. E quando partiu da Argentina, deixou para os amigos uma mala que só poderia ser aberta quando ele já estivesse dentro do navio. Voltava para a Espanha onde seria assassinado poucos anos depois.  Na mala deixada, muito dinheiro.

cartaz do filme Bodas de Sangue,
baseado na peça de Lorca

O poema abaixo é para mim um dos mais bonitos de Lorca,  Foi feito em sua viagem à Cuba em 1930. Sobre ele  há muitos estudos. Disponível na internet, em português, indico esse artigo de Elena Godoy, pesquisadora da Universidade Federal do Paraná, Influências mútuas entre Federico Garcia Lorca e Nicolas Guíllen. E há também esse vídeo, o poema musicado por Michel Camilo,  cantado por Ana Belén.





Cuando llegue la luna llena
iré a Santiago de Cuba,
iré a Santiago,
en un coche de agua negra.
Iré a Santiago.
Cantarán los techos de palmera.
Iré a Santiago.
Cuando la palma quiere ser cigüeña,
iré a Santiago.
Y cuando quiere ser medusa el plátano,
Iré a Santiago
con la rubia cabeza de Fonseca.
Iré a Santiago.
Y con la rosa de Romeo y Julieta
iré a Santiago.
Mar de papel y plata de monedas
Iré a Santiago.
¡Oh Cuba! ¡Oh ritmo de semillas secas!
Iré a Santiago.
¡Oh cintura caliente y gota de madera!
Iré a Santiago.
¡Arpa de troncos vivos, caimán, flor de tabaco!
Iré a Santiago.
Siempre dije que yo iría a Santiago
en un coche de agua negra.
Iré a Santiago.
Brisa y alcohol en las ruedas,
iré a Santiago.
Mi coral en la tiniebla,
iré a Santiago.
El mar ahogado en la arena,
iré a Santiago,
calor blanco, fruta muerta,
iré a Santiago.
¡Oh bovino frescor de cañavera!
¡Oh Cuba! ¡Oh curva de suspiro y barro!
Iré a Santiago.

Nenhum comentário:

Postar um comentário