sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ARIADNE

"Ariadne sente que Dioníso se aproxima. Ele é o Leve, o que não se reconhece no homem. Sabe fazer aquilo que o homem superior não sabe: rir, brincar, dançar, isto é, afirmar. Por isso ele está além-do-homem, além do herói, em outra coisa que não é o homem.

Ariadne se alivia com Dioníso, descarregada. A alma torna-se ativa, ao mesmo tempo que o Espírito revela a verdadeira natureza da afirmação. Transmutação de Ariadne diante da aproximação de Dioníso: sendo Ariadne a alma que agora corresponde ao Espírito que diz sim.

Por que Dioníso tem necessidade de Ariadne, ou de ser amado? É que Dioníso é o deus da afirmação; é necessária uma segunda afirmação para que a própria afirmação seja afirmada. Dioníso é a afirmação do Ser, mas Ariadne é a afirmação da afirmação, a segunda afirmação ou o devir-ativo. Para Ariadne, passar de Teseu a Dioníso é uma questão de saúde e de cura. Dioníso precisa de Ariadne. Dioníso é a afirmação pura; Ariadne é a alma, a afirmação redobrada, o sim que responde ao sim. É bem nesse sentido que o Eterno Retorno é o produto da união entre Dioníso e Ariadne. Ser do devir, o Eterno Retorno é o produto de uma dupla afirmação que faz retornar o que se afirma e só faz devir o que é ativo. Nem as forças reativas nem a vontade de negar retornarão porque são eliminadas pela transmutação, pelo Eterno Retorno que seleciona.

Ariadne esqueceu Teseu, que já não é nem sequer uma má recordação. Teseu jamais retornará. O labirinto já não é o caminho no qual nos perdemos, porém o caminho que retorna. O labirinto já não é o do conhecimento e da moral, e sim o da vida e do Ser como vivente."

Gilles Deleuze - O mistério de Ariadne segundo Nietzsche


Baco e Ariadne  1523  Tizian

Ariadne em Naxos  1820  John Vanderlyn

"Eu, Ariadne,
 caminho no que teço,
no que vomito
 da náusea de fiar
os novelos exatos."
Labirinto - Myriam Fraga

Baco e Ariadne 1821 Antoine Joan
Ariadne em Naxos 1877 Evelin de Morgan

“Te atravesso com a espada
 de meus gritos,
tua solidão é minha
como os mitos
com que teço esta rede
armadilha de seda,
projeto para o sono
 deste monstro que habita
os labirintos.”
Labirinto - Myriam Fraga



Ariadne Venus e Baco  1576 Tintoreto

Abaixo, trecho da ópera Ariadne auf Naxos de Richard Strauss pela fantástica Anna Tomowa

 

O labirinto


"Este é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro, que Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra se perderam tantas gerações como Maria Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo, esse outro labirinto." Jorge Luis Borges


MINOPAUTA
Myriam Fraga

Não te mires no espelho
Côncavo das virtudes.

Esquece o labirinto.

Não cogites,
Devora.


MINOGRAM

Don’t look
In the concave mirror
Of virtue.

Forget the labyrinth.

Don’t think,
Devour.


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