domingo, 31 de outubro de 2010
O que pode um corpo
Rizoma de Blogs
Uzina - Utopia Ativa

A angústia é via crucis de todos nós, pobres mortais...
Sensação de sufocamento, falta de espaço e ar, coração oprimido, um vazio e uma ausência de sentido...
Estamos sem chão... e sem teto... Nós e o nosso mal estar...
Freud a explicou como uma reprodução do medo de castração, oriundo dos nossos desejos incestuosos...
Os existencialistas, pela falta de sentido da vida... A vida não tem um sentido em si mesma.... E é a angústia , então, que nos levaria a um movimento de produção de sentido, anulando-a que emerge como uma resposta de eu ao nada que lhe sempre antepõe.
Outros a viram na sua complexidade e heterogeneidade.
Os surrealistas desvelaram a fragilidade da vida moderna que empobreceu o homem com o seu desencantamento do mundo, necessário a introdução da vida fabril e do pensamento positivista.
Muitos esudiosos conseguiram ligá-la à alienação do trabalho, à opressão de classe e à própria coisificação da vida com a vigência do império-fetichismo das mercadorias.
Deleuze-Guattari assina vários elementos que confluem na produção da angústia:
- o predomínio da produção de reprodução - somos repetitivos e isto à custa de uma negação da nossa singularidade e diferença;
- somos, então, escravos de um rotina, de um scripit, de um modo de existir desconctado com as possibilidades da nossa produção desejante; sem nossos desejos, robotizamos um jeito de ser e acabamos vítimas da angústia;
- para que nossa produção desejante flua, somos es triados, policiados e submetidos a severos mecanismos ( explícitos ou implícitos) de controle,vivendo, asim,, sob pressão;

- a imposição do sistema de controle que nos inibe do desenvolvimento de nossas potências como multiplicidade, gera uma constante insatisfação coom a vida que levamos e com a nossa dificuldade de enfrentar o mundo com esta identidade egóica frágil e restrita;
- a carências de linhas de fuga...
Sofremos... Porém, a saída está na construção de processos libertários que nos permitam romper com o assujeitamento e nos fomentem a reinvenção de nós mesmos, como singularidade, multiplicidade, devires, linhas de fuga, desejo e produção, subjetivações livres...
Restará então um boa angústia: desejo do novo, de novas experimentações, de vôos para além do que ousamos até momento... Seremos filhos da aurora, andarilhos da vida que se afirma potência e desejo, diferença e uma nova ética e uma nova estética... Um modo de viver e existir aberto ao inusitado, a amplidão do que pode um corpo...
Uzina - Utopia Ativa

ANGÚSTIA - VIA CRUCIS
JORGE BICHUETTI
A angústia é via crucis de todos nós, pobres mortais...
Sensação de sufocamento, falta de espaço e ar, coração oprimido, um vazio e uma ausência de sentido...
Estamos sem chão... e sem teto... Nós e o nosso mal estar...
Freud a explicou como uma reprodução do medo de castração, oriundo dos nossos desejos incestuosos...
Os existencialistas, pela falta de sentido da vida... A vida não tem um sentido em si mesma.... E é a angústia , então, que nos levaria a um movimento de produção de sentido, anulando-a que emerge como uma resposta de eu ao nada que lhe sempre antepõe.
Outros a viram na sua complexidade e heterogeneidade.
Os surrealistas desvelaram a fragilidade da vida moderna que empobreceu o homem com o seu desencantamento do mundo, necessário a introdução da vida fabril e do pensamento positivista.
Muitos esudiosos conseguiram ligá-la à alienação do trabalho, à opressão de classe e à própria coisificação da vida com a vigência do império-fetichismo das mercadorias.
Deleuze-Guattari assina vários elementos que confluem na produção da angústia:
- o predomínio da produção de reprodução - somos repetitivos e isto à custa de uma negação da nossa singularidade e diferença;
- somos, então, escravos de um rotina, de um scripit, de um modo de existir desconctado com as possibilidades da nossa produção desejante; sem nossos desejos, robotizamos um jeito de ser e acabamos vítimas da angústia;
- para que nossa produção desejante flua, somos es triados, policiados e submetidos a severos mecanismos ( explícitos ou implícitos) de controle,vivendo, asim,, sob pressão;

- a imposição do sistema de controle que nos inibe do desenvolvimento de nossas potências como multiplicidade, gera uma constante insatisfação coom a vida que levamos e com a nossa dificuldade de enfrentar o mundo com esta identidade egóica frágil e restrita;
- a carências de linhas de fuga...
Sofremos... Porém, a saída está na construção de processos libertários que nos permitam romper com o assujeitamento e nos fomentem a reinvenção de nós mesmos, como singularidade, multiplicidade, devires, linhas de fuga, desejo e produção, subjetivações livres...
Restará então um boa angústia: desejo do novo, de novas experimentações, de vôos para além do que ousamos até momento... Seremos filhos da aurora, andarilhos da vida que se afirma potência e desejo, diferença e uma nova ética e uma nova estética... Um modo de viver e existir aberto ao inusitado, a amplidão do que pode um corpo...
sábado, 30 de outubro de 2010
O jogo entre Apolo e Dionísio
Nietzsche compreende como jogo o intercâmbio entre dois estados de consciência humana representados por Apolo e Dionísio. O apolíneo e o dionisíaco têm entre eles um movimento incessante, o devir, produzindo formas, produzindo o mundo. A grande saúde consiste no eterno retorno desse jogo.
Apolo, para os gregos, é o “Deus brilhante da claridade do dia, revelava-se no Sol. Zeus, seu pai, era o Céu de onde nos vem a luz, e sua mãe, Latona, personificava a Noite de onde nasce a Aurora, anunciadora do soberano senhor das horas douradas do dia.(...) Apolo, soberano da luz, era o Deus cujo raio fazia aparecer e desaparecer as flores, queimava ou aquecia a Terra, era considerado como o pai do entusiasmo, da música e da poesia.(...) Deus da Música e da Lira, Apolo tornou-se, como conseqüência natural, o Deus da Dança, da Poesia e da Inspiração.
Dionísio é o filho da união de Zeus com Sêmele, personificação da Terra em todo o esplendor primaveril da sua magnificência. O deus da mania e da orgia configura a ruptura das inibições, das repressões e dos recalques. Simboliza as forças obscuras que emergem do inconsciente, pois trata-se de uma divindade que preside a liberação provocada pela embriaguez, por todas as formas de embriaguez, a que se apossa dos que bebem, a que se apodera das multidões arrastadas pelo fascínio da dança e da música e até mesmo a embriaguez da loucura com que o deus pune aqueles que lhe desprezam o culto. Desse modo, Dionísio retrataria as forças de dissolução da personalidade: às forças caóticas e primordiais da vida, provocadas pela orgia e a submersão da consciência no magma do inconsciente.
Rizoma de Blogs
Uzina - Utopia Ativa

Rizoma de Blogs
Uzina - Utopia Ativa

APOLO E DIONÍSIO
JORGE BICHUETTI
Uma coroa de louros, um corpo escultural e belo...
A lira, a poesia e o trabalho árduo de ferreiro...
Um deus infalível, disciplinado e laborioso.
Uma taça de vinho, danças, festas e alegria...
Nos bacanais a ousadia de se experimentar o novo...
Um Deus vulnerável, pois encarna no teatro das intensidades
a condição de senhor e escravo dos prazeres.
Duas linhas, dois caminhos: a vida e suas faces...
um diálogo, um pacto - que tornaria o desejo,
vida e a vida, uma alegre e encantada viagem...
Contudo, só Apolo pode mobilizar este encontro divinal...
Pois, no excesso de alegrias e prazeres, Dionísio
vive meergulhado na euforia de seus festivais;
depois, embriagado e cansado, simplesmente, adormece...
Rizoma de blogs
Marta Rúbia de Rezende disse...
Jorge querido, o Utopia Ativa está cada vez mais tchans.
O Uzina inaugurou a sua Biblioteca CSO com dois textos seus. E também organizou o Rizoma de Blogs. Poucos e nobres. Piano, piano, se va lontano.
Beijos
Marta
30 de outubro de 2010 03:42
Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...
A idéia de rizoma de blogs é um acontecimento. Irá molbilizar entres criativos e es que nos permitirão devir sociedade de amigos em processo de invenções utópicas. jorge
30 de outubro de 2010 03:53
Daniel Lins
" Mas, por onde passaria a ética da crueldade? Pela produção de conceitos, pela filosofia, pela visão que ambos [Nietzsche e Artaud] têm do homem e do mundo. Pelo processo contínuo de desconstrução que, soob o signo de um pensamento móvel, movediço, nômade, conhecedor-experimentador de muitos desertos, delineia as cartografias desejantes, os surtos da pele, os gritos molhados de uma epiderme em revolta constante contra o corpo da razão - em Nietzsche - , e contra o organismo em Artaud." Daniel Lins
Dos filosofos brasileiros, o Daniel Lins é the best, superbe. Sugiro um mergulho no melhor dele na rede:
Artigo:

Livros:
Lampião: o homem que amava as mulheres
Vídeos:
- Para uma metafísica do rock: Bob Dylan e Gilles Deleuze – Fernando Chuí e Daniel Lins
- Matéria do Uzinamarta:
"Nietzsche e a apologia da beleza" anotações da palestra de Daniel Lins
BIBLIOTECA CORPOS SEM ÓRGÃOS
Rizoma de Blogs
Uzina - Utopia Ativa
Uzina - Utopia Ativa
A Biblioteca CSO é inaugurada com dois textos de Jorge Bichuetti:
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
DIÁLOGO FESTIVO
Marta, algo que passa desapercebido nos estudiosos da racionalidade técnico-instrumental, no desencantamento do mundo... é a ausência das festas, hoje, capturadas num anonimato efusivo, porém evitativo dos encontros...
Reencantar a vida é também resgatar as potências das festas...
E viva a alegria e o amor... Beijos jorge
Sim Jorge, eu concordo. A vida anda um bocado aprisionada nos automóveis, shopping centers, supermercados, condomínios, câmeras, grades. Festa do consumismo. Festa da babaquice. Festa da doença. Festa do "não me toque".
Claro, há outras possibilidades, pois a vida intensa lateja, o jardim está aí aguardando as alegres festas.
Por enquanto, vou brincando... Pronta para as festas, só as deliciosas e malucas festas. Viva!
beijo
Marta
Reencantar a vida é também resgatar as potências das festas...
E viva a alegria e o amor... Beijos jorge
Sim Jorge, eu concordo. A vida anda um bocado aprisionada nos automóveis, shopping centers, supermercados, condomínios, câmeras, grades. Festa do consumismo. Festa da babaquice. Festa da doença. Festa do "não me toque".
Claro, há outras possibilidades, pois a vida intensa lateja, o jardim está aí aguardando as alegres festas.
Por enquanto, vou brincando... Pronta para as festas, só as deliciosas e malucas festas. Viva!
beijo
Marta
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Feliz eleição Brasil!!!
Uma mulher na presidência do Brasil!!!
Isso é bom demais, minha gente.
DILMA 13
Rizoma de Blogs
Uzina - Utopia Ativa
1 comentários:
Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...
Dilma 13,cresce a esperança...
Não podemos retroceder... o abismo é sombrio e fétido, cinzento... Que brilhem as estrelas... na esperança de nos lirbertar e construir um mundo de justiça, diversidade e paz... Um mundo verde-azul-rosa-vermelho- anil- violetas na calçada... E canto de passarinhos no ar...
Um mundo sem fome, sem violência...
De direito à diferença..
De magia e seresta,solidariedade e liberdade...
Dilma 13: mulher- guerreira na presidência...
Hasta la victoria... Beijos jorge
O PENSAMENTO DE SARTRE POR ELE MESMO
Para Sartre a liberdade é o compromisso. É o engajamento. O ato.
O vídeo é muito bonito, mas as legendas em espanhol são péssimas e Sartre fala, claro, em francês! Mesmo sem entender nenhuma palavra, vale ver Sartre. Viva o Youtube!!!
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA
Cláudio Ulpiano:
O que Foucault trouxe da Grécia?
Relação agonística de sí consigo próprio.
Produção de uma vida livre.
Uma vida bela.
Produção de uma vida livre.
Uma vida bela.
CSO
Esse blog encontrou um caminho, um labirinto: o corpo sem órgãos e o plano de imanência
"Encontre seu corpo sem orgãos, mas saiba fazê-lo, é uma questão de vida ou de morte, de juventude e de velhice, de tristeza e de alegria. É aí que tudo se decide!" Deleuze - Guattari
O QUE PODE UM CARINHO
JORGE BICHUETTI
"Um beijo
alimenta e renova
o corpo;
mas o deixa sem órgãos...
Já que o decompõe
e o torna mil fagulhas
de um fogo,
agora, fogo errante,
um dançarino no ar..."
Jorge Bichuetti
"Como fazer um corpo sem órgãos? desterritorializando-se, e assim, liberar-se o império dos órgãos... Devir enas multiplicidades novas expperimentar a vida com novos usos: a pele vê, sente e prevê...o silêncio fala e a palavra escuta... Ama-se com as vísceras... descobre-se com asas e com a capacidade serpentear..
Espaço liso: linhas de diferenciação, num novo território é fabricado e nele a alegria e os bons encontros, o desejo e a vontade de potência quebra muros e barreiras para viver na fronteira...num mergulho na arte e na magia...
Num existir metamorfoseante...
Beijos jorge

JORGE BICHUETTI
"Um beijo
alimenta e renova
o corpo;
mas o deixa sem órgãos...
Já que o decompõe
e o torna mil fagulhas
de um fogo,
agora, fogo errante,
um dançarino no ar..."
Jorge Bichuetti
"Como fazer um corpo sem órgãos? desterritorializando-se, e assim, liberar-se o império dos órgãos... Devir enas multiplicidades novas expperimentar a vida com novos usos: a pele vê, sente e prevê...o silêncio fala e a palavra escuta... Ama-se com as vísceras... descobre-se com asas e com a capacidade serpentear..
Espaço liso: linhas de diferenciação, num novo território é fabricado e nele a alegria e os bons encontros, o desejo e a vontade de potência quebra muros e barreiras para viver na fronteira...num mergulho na arte e na magia...
Num existir metamorfoseante...
Beijos jorge

Deleuze & Guattari
“Será tão triste e perigoso não mais suportar os olhos para ver, os pulmões para respirar, a boca para engolir, a língua para falar, o cérebro para pensar, o ânus e a laringe, a cabeça e as pernas? Por que não caminhar com a cabeça, cantar com o sinus, ver com a pele, respirar com o ventre, Coisa simples, Entidade, Corpo Pleno, Viagem Imóvel, Anorexia, Visão Cutânea, Yoga, Krishna, Love, Experimentação. Onde a psicanálise diz: Pare, reencontre o seu eu, seria preciso dizer: vamos mais longe, não encontramos ainda nosso CsO Corpo sem Orgãos, não desfizemos ainda suficientemente nosso eu. Substituir a anamnese pelo esquecimento, a interpretação pela experimentação. Encontre seu corpo sem orgãos, mas saiba fazê-lo, é uma questão de vida ou de morte, de juventude e de velhice, de tristeza e de alegria. É aí que tudo se decide.”
Deleuze - Guattari - Como criar para sí um corpo sem órgãos - Mil Platôs - Vol. III
DEVIR MULHER - DEVIR ARTE - PINTAR, BORDAR E AMASSAR
Lygia Clark
Suely Rolnik
Rolnik: Subjetividade em obra
Lygia Clark, artista contemporânea
Rolnik: Por um estado de arte a atualidade de Lygia Clark
Suely Rolnik
Rolnik: Subjetividade em obra
Lygia Clark, artista contemporânea
Rolnik: Por um estado de arte a atualidade de Lygia Clark
DEVIR BICHO
Rolnik: Arte cura?
A CASA É O CORPO
O signo, a repetição e a diferença
" O signo é um efeito, mas o efeito tem dois aspectos: um pelo qual, enquanto signo, ele exprime a dissimetria produtora; o outro, pelo qual ele tende a anulá-la. O signo não é inteiramente a ordem do símbolo; todavia, ele a prepara, ao implicar uma diferença interna (mas ainda deixando no exterior as condições de sua reprodução).
A expressão negativa "falta de simetria" não nos deve enganar: ela designa a origem e a positividade do processo causal. Ela é a própria positividade. Para nós, o essencial, como é sugerido pelo exemplo do motivo de decoração, é desmembrar a causalidade para nela distinguir dois tipos de repetição, sendo, um deles, concernente apenas ao efeito total abstrato e, o outro, à causa atuante. O primeiro tipo é uma repetição estática, o segundo é uma repetição dinâmica. O primeiro resulta da obra, mas o segundo é como a "evolução" do gesto. O primeiro remete a um mesmo conceito, que deixa subsistir apenas uma diferença exterior entre os exemplares ordinários de uma figura; o segundo é repetição de uma diferença interna que ele compreende em cada um de seus momentos e que ele transporta de um ponto relevante a outro. Pode-se tentar assimilar estas repetições dizendo-se que, do primeiro ao segundo tipo, é somente o conteúdo do conceito que muda, ou dizendo-se que a figura se articula distintamente. Mas isto seria desconhecer a ordem respectiva de cada repetição, pois, na ordem dinâmica, já não há conceito representativo nem figura representada num espaço preexistente. Há uma Idéia e um puro dinamismo criador de espaço correspondente."
Gilles Deleuze - Diferença e Repetição
A expressão negativa "falta de simetria" não nos deve enganar: ela designa a origem e a positividade do processo causal. Ela é a própria positividade. Para nós, o essencial, como é sugerido pelo exemplo do motivo de decoração, é desmembrar a causalidade para nela distinguir dois tipos de repetição, sendo, um deles, concernente apenas ao efeito total abstrato e, o outro, à causa atuante. O primeiro tipo é uma repetição estática, o segundo é uma repetição dinâmica. O primeiro resulta da obra, mas o segundo é como a "evolução" do gesto. O primeiro remete a um mesmo conceito, que deixa subsistir apenas uma diferença exterior entre os exemplares ordinários de uma figura; o segundo é repetição de uma diferença interna que ele compreende em cada um de seus momentos e que ele transporta de um ponto relevante a outro. Pode-se tentar assimilar estas repetições dizendo-se que, do primeiro ao segundo tipo, é somente o conteúdo do conceito que muda, ou dizendo-se que a figura se articula distintamente. Mas isto seria desconhecer a ordem respectiva de cada repetição, pois, na ordem dinâmica, já não há conceito representativo nem figura representada num espaço preexistente. Há uma Idéia e um puro dinamismo criador de espaço correspondente."
Gilles Deleuze - Diferença e Repetição
AMOR ROMÂNTICO
" À inacessibilidade do ser amado cantada em verso e prosa pela literatura soma-se assim a inacessibilidade do ideal: verificando que não podemos corresponder àquilo que ele exige, tentamos de mil maneiras contornar essa impossibilidade, sempre sem sucesso: o resultado são vivências de fracasso e de angústia – e para nos proteger delas, entram em cena as defesas com que conta a nossa estrutura psíquica: negação, cisão, projeção, recalque...
Todas elas visam em primeiro lugar a evitar o confronto com uma dolorosa impossibilidade: a de se fundir por completo com o ser amado, numa totalidade perfeita que no limite faria ambos desaparecerem como indivíduos. Cabe aqui notar, como faz Sophie de Mijolla, que o termo “fusão” significa tanto união como combustão: o “fogo do amor” acabaria por derreter os parceiros, como na história do Soldadinho de Chumbo. Ora, o ideal da fusão se choca com o fato de que o outro tem sempre um “lado de dentro”, uma interioridade que permanece desconhecida para seu amante – e que deve permanecer desconhecida, para assegurar um espaço psíquico de privacidade e segredo sem cuja existência o indivíduo soçobra na loucura.
Do fato de que o outro jamais me é transparente nasce o grande tormento do amor – o ciúme. Se aquele é vivido como conquista e posse de um objeto que sempre corremos o risco de perder, é inevitável que o tentemos controlar – e inevitável que fracassemos nesta tentativa, porque não se pode dominar o futuro."
.
.
" Para que a razão possa se exercer, contudo, ela precisa ser alimentada com o conhecimento, no caso o conhecimento sobre o que se oculta sob a expressão aparentemente inofensiva “amor romântico”. Há outras espécies de amor, nas quais o desequilíbrio entre os parceiros não é a regra – e por isso mesmo são mais duradouras e menos geradoras de sofrimento. Mas para as descobrir e viver, é preciso ter deixado para trás as exigências infantis de completude e de transparência integral do outro. É preciso renunciar à ilusão de que ele pode ser controlado pela nossa vontade, e reconhecer que ele também é um sujeito, com contradições e insuficiências semelhantes àquelas de que nós mesmos padecemos.
Difícil? Certamente. Mas não impossível. Pois, como diz Espinosa ao concluir sua Ética: “certamente deve ser árduo o que tão raramente se encontra. Mas tudo o que é precioso é tão difícil quanto raro.”
Todas elas visam em primeiro lugar a evitar o confronto com uma dolorosa impossibilidade: a de se fundir por completo com o ser amado, numa totalidade perfeita que no limite faria ambos desaparecerem como indivíduos. Cabe aqui notar, como faz Sophie de Mijolla, que o termo “fusão” significa tanto união como combustão: o “fogo do amor” acabaria por derreter os parceiros, como na história do Soldadinho de Chumbo. Ora, o ideal da fusão se choca com o fato de que o outro tem sempre um “lado de dentro”, uma interioridade que permanece desconhecida para seu amante – e que deve permanecer desconhecida, para assegurar um espaço psíquico de privacidade e segredo sem cuja existência o indivíduo soçobra na loucura.
Do fato de que o outro jamais me é transparente nasce o grande tormento do amor – o ciúme. Se aquele é vivido como conquista e posse de um objeto que sempre corremos o risco de perder, é inevitável que o tentemos controlar – e inevitável que fracassemos nesta tentativa, porque não se pode dominar o futuro."
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" Para que a razão possa se exercer, contudo, ela precisa ser alimentada com o conhecimento, no caso o conhecimento sobre o que se oculta sob a expressão aparentemente inofensiva “amor romântico”. Há outras espécies de amor, nas quais o desequilíbrio entre os parceiros não é a regra – e por isso mesmo são mais duradouras e menos geradoras de sofrimento. Mas para as descobrir e viver, é preciso ter deixado para trás as exigências infantis de completude e de transparência integral do outro. É preciso renunciar à ilusão de que ele pode ser controlado pela nossa vontade, e reconhecer que ele também é um sujeito, com contradições e insuficiências semelhantes àquelas de que nós mesmos padecemos.
Difícil? Certamente. Mas não impossível. Pois, como diz Espinosa ao concluir sua Ética: “certamente deve ser árduo o que tão raramente se encontra. Mas tudo o que é precioso é tão difícil quanto raro.”
terça-feira, 26 de outubro de 2010
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