terça-feira, 27 de julho de 2010

Ironweed: subjetividade e lixo



Nós, o populacho, não concordamos com filósofos que dizem que a nossa subjetividade é  lixo.  Não se trata de conclamar a compaixão, argh compaixão de qualquer um, argh principalmente da compaixão da filosofia. Trata-se sim de conclamar um pouco ao menos de política na filosofia. Quem sabe, um plano de imanência revolucionário (de radicalidade democrática)! Certo mesmo, é que é preciso conclamar o espírito guerreiro das artes.


Para o nosso consolo ( sim, é preciso tb o consolo, o descanso)  e, principalmente, na  guerra incessante contra a nobreza elitista, há a arte que capta a nobreza dos pobres, derrotados, fracassados, perdidos, mutilados, expatriados, sem estudo, sem diploma, sem doutorado, sem mestrado, adoentados, alcoolizados, crucificados, vagabundos, desempregados, subempregados, quebra-galhos, meia-bocas etc. Etc. dos  que não viajam, não acham Paris o máximo (nem o mínimo, nem o meio), não andam de avião, não dão palestra, não são mestres de nada, não escrevem livros e  nem mesmo os lêem (livres da bibliomania!). Por isso não tremem diante do Umberto Eco, nem sabem quem é Umberto Ecco,  e talvez nunca digam "vivo uma fase muito feliz". Enfin, a escória do mundo, talvez 70% da população mundial.



Hector Babenco é um cineasta nobre não elitista. Por isso, fez esse lindo filme Ironweed, entre outros filmes lindos que dirigiu. Nada mais nada menos do que Jack Nicholson, Meryl Streep e Tom Waits no elenco interpretando a miséria de sujeitos ou sujeitos à miséria, que vivem, engatinham-se, arrastam-se no lixo. Aliás, o lixo tem lá sua riqueza, que o digam os que dele vivem e dos que se aproveitam dos que vivem do/no lixo. Dos que vivem, por exemplo, a catar latinhas, papelões e outros lixos reprocessados pela indústria milionária das embalagens.

Fantástica Meryl Streep no papel de Helen Archer.
Clique aqui para vê-la cantando He´s me pal
numa das mais belas cenas de Ironweed
Originalmente contada pela  arte literária de William Kennedy, outro artista que pôs lupa na rica subjetividade dos fracassados, Ironweed é uma novela que fala da vida dos que vivem à margem da riqueza, à margem de todas riquezas materiais, mas não da riqueza da subjetividade. Subjetividade não tem marido, esposa, pai, mãe e patrão.  Por isso, há muita subjetividade lixo no caminho dos filósofos e dos felizes.

O filme Ironweed (que Babenco considera o seu "patinho feio") pode ser abaixado da internet, alugados nas locadoras, comprado na Submarino. Você pode também ver o trechinho de abertura abaixo (em inglês, afinal há sujeitos da miséria que falam inglês, francês,  russo, chinês, árabe, português etc. A miséria e a subjetividade rica dos miseráveis são universais. E, atualmente, muito densas também na língua inglesa...).


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